Saturday, September 17, 2011

Spinnerette

 Escrito e editado por: Angélica Albuquerque


Com o que a Spinnerette se parece? Eu direi a vocês... ela soa como um gato bebendo leite; como orvalho sobre a relva da manhã; como o vento nas árvores à noite; como Robert Johnson vendendo a sua alma para o diabo na encruzilhada... é com isso que a Spinnerette se parece Brody Dalle


biografia-spinnerette-brody-dalle
     Depois de ficar sem gravar algo novo por quase cinco anos (seu último trabalho de inéditas lançado tinha sido o CD Coral Fang, de 2003, com The Distillers) e considerar uma aposentadoria devido à formação da sua família, Brody Dalle, em março de 2007, anunciou seu novo projeto (que tem influências de Pailhead, Gunclub, Roky Erickson, My Bloody Valentine e Black Flag), Spinnerette, que havia sido criado no ano anterior, após o nascimento da sua filha, Camille.
     Brody explicou o motivo de tanta demora: “Eu continuei gravando algumas coisas numas fitas e eu tinha tipo, cinquenta horas de material. Era muita música para rever e por isso que levou todo esse tempo”. “Além disso, ter um bebê requer algum tempo também.”
     A banda americana de Los Angeles/Califórnia - de “ciganos itinerantes em fuga”, como Dalle os descreve - não contém membros “fixos”. Brody deixou claro em uma entrevista que haverá diferentes line-ups, enquanto ela fizer a turnê do álbum: “Spinnerette não é uma banda. Sou eu e uns músicos com os quais eu quero trabalhar no momento.”
biografia-spinnerette-brody-dalle
     No myspace oficial é possível encontrar 2 line-ups divulgados: Um para estúdio e um outro para turnê. O do estúdio conta com – além de Brody Dalle, logicamente - Tony Bevilacqua (Distillers), Alain Johannes (ex-What Is This?, ex-Walk The Moon, ex-Eleven, produtor, multi-instrumentista, músico de apoio nas turnês de algumas bandas como Them Crooked Vultures e engenheiro de som do Queens of the Stone Age) e Jack Irons (ex-What Is This?, ex-Red Hot Chili Peppers, ex-Walk The Moon, ex-Pearl Jam, ex-Eleven).  Inclusive, Jack não foi a primeira escolha de Brody para tocar bateria: “Originalmente, era Jon Theodore, mas ele rompeu o seu manguito rotador [que é o principal grupo muscular responsável pela movimentação do ombro] dias antes, então Al disse ‘vamos chamar o Jack para tocar!’ e foi isso. Tudo acontece por uma razão. Isso quer dizer que Jack era o predestinado a assumir as baquetas da banda.
Porém, conforme já foi citado acima e em entrevistas atuais, não há nenhuma menção de que Alain, Jack e/ou Tony, supostamente seja/sejam membro(s) da banda. 
biografia-spinnerette-brody-dalle
     Desde sua formação, a banda esteve à procura de um selo. Primeiramente eles assinaram com a Sire Records (gravadora que havia lançado o último álbum dos Distillers) e tinham também um contrato empresarial com Alan McGee (Creation Records). Mas o grupo rompeu ambos os acordos no começo de 2008. "O estado da indústria levou-nos a querer colocar o álbum fora de nós mesmos. Eu não estou interessada em ficar presa dentro do sistema. Acabei de sair de um negócio e saí com meu CD, graças a Deus, e eu estou muito grata por isso”, Brody sobre o assunto.
     Águas passadas, a banda assinou com o selo independente canadense Anthem Records (de Ray Danniels, Vic Wilson e dos co-proprietários Neil Peart, Geddy Lee e Alex Lifeson, do Rush). “Isso é perfeito!” disse Brody em entrevista ao site CHARTattack, durante uma visita a Toronto para promover o EP Ghetto Love. “Eu fazia a mínima idéia de que eles tinham um selo próprio, porque eu não costumava ouvir Rush".Mas eu adorei saber que a Spinnerette será lançada através de um selo independente, que começou pelo fato deles não conseguirem ter um contrato. Eu consigo me ver na mesma posição em que eles estiveram.”
biografia-spinnerette-brody-dalle     A banda também assinou com a [empresarial] SRO Management Inc (que também faz parte do grupo Anthem Records). 
“Foi um pesadelo foda de aturar”, disse Brody. “Tentando arrumar empresário, tentando arrumar um contrato, tentando resolver como iríamos lançar as músicas nessa atmosfera; com esse clima, procurando dinheiro para nos dar suporte, procurando alguém que acreditasse no que estávamos fazendo.” “Não conseguimos obter qualquer interesse nos E.U.A., por isso fico feliz em saber que nós estamos trabalhando, agora, com o Canadá. Você precisa ser mundano.”

     No mesmo ano em que foi anunciada a sua estreia, a Spinnerette lançou uma faixa instrumental, “Case of the Swirls” (escrita em um piano elétrico e transcrita para a guitarra por Johannes) e no começo de janeiro de 2008, uma mash-up (com um pouco menos de um minuto de duração) - com todo o material até então que entraria para o EP e CD - apareceu no site e no myspace oficial da banda.
Mas não era suficiente para os fãs e o “gostinho de quero mais” ainda continuava...
Para diminuir um pouco dessa vontade e sede por algum material na íntegra, no dia 8 de agosto de 2008 (“porque oito é o número da renovação”, como Brody explicou, certa vez) foi escrito no blog do myspace que os fãs agora poderiam ouvir uma canção inteira no site da banda. Essa música, que faria parte do EP, era “Valium Knights”.
Também em agosto, Dalle participou do concerto/tributo à Natasha Shneider (Natasha Shneider Benefit Concert), onde apresentou pela primeira vez "Driving Song", junto com Queens of the Stone Age (banda do seu marido, Joshua Homme).

biografia-spinnerette-brody-dalle     Ok. Spinnerette já tinha divulgado duas músicas. Mas como isso era basicamente nada, os fãs queriam conferir como a banda era ao vivo e a própria banda sentia essa necessidade (de fazer algumas apresentações), até mesmo para ver se as músicas estavam sacramentadas.
     Primeiramente através da newsletter oficial da banda e depois através do site oficial, eles anunciaram que em outubro de 2008 fariam alguns shows com o seguinte line-up: Brody Dalle - vocais e guitarra, Tony Bevilacqua – guitarra, Bryan Tulao – “mais uma guitarra”, Nicole Fiorentino – baixo e Dave Hidalgo Jr. – bateria.
     O line-up atual é, basicamente, o mesmo. Porém, Alain participa raramente de algumas apresentações e quem assumiu os graves durante a turnê australiana, em 2010, não foi a Nicole e nem o irmão de Dave, Vincent Hidalgo. Zach Dawes, do Mini Mansions, foi o novo baixista da banda de apoio.

biografia-spinnerette-brody-dalle     A partir daí, as cobranças por um material (CD ou EP) físico ou virtual foram tomando cada vez mais força.
     No dia 16 de dezembro de 2008, através do site oficial, a Spinnerette lançou um EP virtual, intitulado Ghetto Love, com as musicas: “Ghetto Love”, “Distorting a Code”, “Valium Knights” e “Bury My Heart”, tendo ainda adicionado “ao pacote”, um vídeo de “Ghetto Love” dirigido [pelo incrível] Liam Lynch.
Duas dessas faixas, “Valium Knights” e “Ghetto Love”, foram usadas no desfile de Marc Jacobs, da sua coleção de outono 2009/2010.

     E, então, depois de meses e meses de espera, o álbum completo e homônimo (gravado no estúdio de Brody Dalle e Josh Homme, o Pink Duck e com produção, engenharia e mixagem sob os cuidados de Alain Johannes), foi lançado no dia 16 de junho de 2009.
     Brody disse que o álbum foi inspirado pelo nascimento de sua filha e pela morte do seu pai e explora “redenção, salvação e temas religiosos.” “As alegrias e profunda tristeza daquele período, não podiam deixar de vir na minha arte, como todas as experiências mais exploradas. Tendo tais extremos ocorrendo em um período compactado, isso assegurou que todos eles aparecessem nessa coleção de canções da Spinnerette.”

biografia-spinnerette-brody-dalle     A gravação começou com idealismo e um desejo urgente de, finalmente, colocar em ação 2 anos de ideias.
     "Nós parecíamos crianças, nós tivemos tanta diversão ao fazer esse disco", contou Dalle. Mas ela também admitiu: Este foi o mais longo, o mais doloroso, porém o mais gratificante processo de fazer um álbum por qual eu já passei.”
     Brody disse também que o álbum tem “um tipo de agressividade diferente dos Distillers”. E sobre as músicas, ela contou: “A maioria do álbum foi escrito em 2004, o ano anterior à minha gravidez. Há pouca coisa antes disso, época do Distillers. Eu escrevi no estúdio também - Eu escrevi ‘Impaler’ no último minuto. É sobre matar Vlad O Empalador, por ter sido um puto. Foi baseado na minha vida”. “As canções saíram do contexto e pareciam inapropriadas para os Distillers. Eu me senti obstinada a partilhá-las com alguém.

biografia-spinnerette-brody-dalle
Inclusive, ela comentou sobre essa diferença musical entre uma banda e outra: “Eu não queria fazer nada muito drástico ou testar algumas coisas nos Distillers. Eu poderia adicionar mais coisas ao Coral Fang, mas eu me segurei deliberadamente. O produtor do disco, Gil Norton, ficava tipo: 'Por que a gente não põe uns tamborins aqui?' e eu respondia algo como: 'Tamborins? Nem fodendo! Vai se foder!'. Eu não queria bagunçar o som. Queria que fosse o mais cru possível.” “Nós queremos realmente fazer um som original; Eu acho que isso é o que tem acontecido. Spinnerette, de alguma forma, realmente é mais notável que o Distillers, sabe?” “[Spinnerette] É, definitivamente, o que eu quero fazer e é um pouco mais complexo do que o Distillers. Eu amo o Distillers, mas isso é realmente apenas uma reta em frente para ser seguida, fácil, sem muita coisa para pensar - exceto minhas letras, eu penso muito sobre as minhas letras. Mas a música é simples. E Spinnerette, com certeza, está atirando em uma diferente direção.


     Voltando a falar sobre o CD de estreia da Spinnerette, Brody explicou: “As letras são tipo 'Eu vou arrancar a sua cabeça hoje à noite, no maior estilo Vlad, O Empalador'.” "São sobre matar predadores.”
     Brody explicou também como funciona o processo de criação das músicas: “Eu escrevo as músicas e as trago. Aí, o Al faz uns implantes e face lifting nelas, no bom sentido. E também alguma siliconada nos seios. E o Tony adiciona algumas texturas para decorar, escreve algumas coisas primordiais, faz coisas radicais e voilà.”

biografia-spinnerette-brody-dalle
     Quando questionada sobre as comparações - tanto das músicas quanto das artworks e produção - com Queens of The Stone Age e outros do gênero, Brody rebateu: “Eu não ligo se tinha uma mulher seminua na capa do primeiro CD do Queens. E daí? Essas pessoas são ridículas. As curvas são essencialmente femininas e é por isso que há um torso vestido com a porra de um espartilho na capa do meu CD. Já a minha produção, não tem nada a ver comigo. Vocês têm que ver isso com o Alain. Ele e Josh passaram muito tempo juntos em estúdios, foram anos, e eu tenho certeza que eles têm um monte de técnicas parecidas ou iguais. O Alain é o melhor músico do mundo, na minha opinião. Eu sinto que as guitarras no meu CD estão tão boas, que se você me diz que elas estão parecendo com as do Queens of the Stone Age, eu não terei problema algum com isso. Porque, realmente, elas estão do caralho. Meu marido não escreve as minhas músicas. Ele nunca irá escrevê-las. Ele me pediu um riff e uma canção, recentemente, mas eu nunca irei fornecer isso pra ele, por conta de toda a merda que teríamos que aturar depois. Mas eu espero que isso desapareça um dia.”

biografia-spinnerette-brody-dalle
     Brody também não gosta quando dizem que o seu trabalho amadureceu: “Eu odeio esse mundo. Eu odeio quando a imprensa diz 'oh, essa banda amadureceu e se aperfeiçoou'. “Se eu tivesse que descrever o meu som, eu diria que está 'repensado'. Sem melhor opção, chame-o de repensado. Eu gosto dessa palavra.”

     Contendo também 2 faixas do EP Ghetto Love, o primeiro CD da banda (onde Brody Dalle toca - além de algumas guitarras - baixo, teclado e piano elétrico) conta com mais 11 faixas inéditas. Algumas, com fontes de inspiração no mínimo curiosas: “Geeking” foi inspirada por uma canção de ninar que Brody cantarolava para a sua filha, Camille. Já “Impaler”, foi inspirada pelo brutal príncipe romeno, Vlad Tepes e, sua melodia, foi reforçada por uma garrafa de vinho, tendo antes somente o significado remanescente para parecer com um “amontoado de chaves”. Dalle explicou: “Aquele momento foi como um teste para ver quão genial o Al é. Não é tudo somente sobre notas e arranjos, é sobre a criação de um estado de espírito. É muito bom observá-lo trabalhar. Há tanta coisa acontecendo, musicalmente, na sua cabeça, que ele quase não pode se mover rápido o suficiente para tirar todas as idéias que surgem dela.

biografia-spinnerette-brody-dalle    Em relação à banda, Brody contou um pouco sobre a sua visão do que o projeto é: “Spinnerette obtém um novo começo; uma página em branco. Ela fica de recomeçar e ser a nova criança da cidade, só que ela não é nenhuma criança. Ela é extravagante, sexy e ela fode por aí.... Ela descreveu a banda também como “o que acontece quando eu deixo a torneira aberta.”

     Com várias faixas que sobraram do primeiro álbum (b-sides) e outras ainda sendo “lapidadas”, Spinnerette tem todas as características de um contínuo florescimento: “Nós planejamos continuar escrevendo, fazendo turnê, fazendo vídeos e fazendo o máximo que pudermos.” “Eu quero fazer mais. Eu quero o tipo de longevidade que a Dolly Parton teve. Eu quero ser uma artista e uma compositora prodígio. Eu não posso impedir que isso saia de mim; é a única coisa coerente que eu já fiz na minha vida.”




Matérias 

[2010-03-05] A Música é da Mãe Natureza
[2010-03-03] Spinnerette no FasterLouder.com.au 
[2010-03-02] Spinnerette na Rave Magazine
[2010-02-23] Spinnerette no Triple J Blogs