Saturday, October 01, 2011

Exclusivamente na Web: Uma conversa com Brody Dalle, da Spinnerette


Título original: Web Exclusive: A conversation with Spinnerette's Brody Dalle
Por: Brian Shultz
Para: Alternative Press
Data: 17 de dezembro de 2008
Tradução: Angélica Albuquerque


Brody Dalle: Libertina. Mãe. “focada na arte”. Tem uma tatuagem que diz “fuck off”. Estas provavelmente são as características familiares dadas pelos fãs incondicionais da Brody Dalle, fundadora do Distillers, que acabou em 2006. Mas eles parecem ter maiores precedentes atualmente para Dalle, cujo mais novo empreendimento, Spinnerette acaba de ganhar vida.
A banda recentemente lançou o EP digital Ghetto Love e tem planos de lançar o álbum completo no próximo ano. Embora o line-up de turnê seja drasticamente diferente do line-up de estúdio - que inclui ex membros do Queens Of The Stone Age, Eleven, Red Hot Chili Peppers e Pearl Jam, assim como o ex guitarrista do Distillers, Tony Bevilacqua - Dalle parece confiante com seus músicos.
Brian Shultz recentemente conversou com ela sobre isso, sobre o que mudou desde o Distillers até agora e sobre o rompimento de contrato com a Sire Records.

Você esteve bem quieta nos últimos anos, mas você esteve contribuindo para bandas como Eagles of Death Metal e QotSA. O que mais você tem feito?

Bem, fazer backing vocals no CD “Lullabies To Paralyze” (do QotSA) não levou muito do meu tempo. Estive criando a minha filha e nos últimos dois anos, escrevi para o CD da Spinnerette... E também tenho feito participações especiais, eu acho [risos].

Você estava evitando falar com a media ou isso aconteceu porque você estava muito ocupada com a sua nova família?

Isso não foi intencional. Eu estava tão focada na vida e não havia também razão alguma para eu falar sobre qualquer coisa, porque eu não tinha nada para mostrar até o momento. Geralmente é assim que funciona com a imprensa.

Você mencionou que pretende fazer um projeto mais “focado na arte” e ter mais controle criativo do que com o Distillers.

Bem, eu sinto que com o Distillers, nós vivíamos sob o apelido de punk rock e não quer dizer que eu não ame punk rock, porque eu amo. Alguns dos meus discos favoritos são de punk rock; tenho tatuado “fuck off” no meu braço. Eu continuo me sentindo como uma imoral. Isso não foi embora. Mas o que sumiu foi o fato de eu costumar a me controlar e editar, porque eu estava muito preocupada com "as crianças", como eles diziam. As coisas que eu ouço atualmente são mais focadas na arte, mais experimentais e mais fora de tudo. Coisas como Ratatat e um amigo nosso, (DJ) Adam Freeland, fez um remix de "Sex Bomb" (que estará no álbum), pelo qual eu estou totalmente apaixonada. Com a Spinnerette, eu parei de me censurar e de me editar e... O que quer que fosse, mesmo que eu tenha me sentido um pouco envergonhada, porque era muito meloso ou por qualquer motivo, a sensação é boa apenas te permite cavar muito fundo.

O que mais você tem ouvido?

Uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos é Hunters & Collectors. É uma banda australiana que existe há cerca de vinte e cinco ou trinta anos. Eu fui criada com a música deles, quer era realmente um tipo industrial e experimental, nos anos oitenta. Eu queria voltar para essa época e para as minhas primeiras memórias musicais. Basta abrir as minhas asas, eu acho.

Oh, e Pailhead. É outro exemplo. E também Roky Erickson; um dos meus discos favoritos é dele, o Gremlins Have Pictures. Ele não pretensão alguma. Ele era realmente louco e isso é lindo porque é poético.
Eu ouço de tudo da minha infância, desde Neneh Cherry a Hunters & Collectors, Tom Petty, Tom Waits. Nada específico. Só um bom apanhado de coisas que fazem bem ouvir.

Quando que você começou a sentir que estava perdendo algum controle com o Distillers?
                           
Eu tive controle criativo no Distillers até assinarmos com uma gravadora maior e eles estavam esperando coisas de nós, que tinham mais a ver com artwork do que com o que estávamos lançando. Tivemos que fazer duas capas. Isso não quer dizer que não poderíamos ter lançado a capa que queríamos. O CD apenas não seria vendido no Walmart ou aquela merda de Target ou qualquer coisa assim. Porém isso foi mais uma censura pessoal. Quero dizer, é claro que eles queriam que eu fizesse pop hits, pop-punk ou algo do tipo. Mas eu realmente nunca aceitei isso e nem nunca cedi à isso. "Coral Fang" foi uma coisa orgânica. Mas eu estou falando sobre estar me censurando tanto quanto sobre estar me controlando criativamente. Eu estava me controlando e isso tinha que acabar. Tinha que deixar esses Dr. Jekyll e Mr. Hyde ("O Médico e O Monstro") internos - [risos] - escreverem uma música ou lançá-la, deixando apenas acontecer.

No release para a imprensa consta que o álbum é inspirado pelo nascimento da sua filha e pela morte do seu pai e explora “redenção, salvação e temas religiosos”. O EP é um “instantâneo” disso?

Sim. É só para saciar, porque é uma luta para descobrir como vou lançar o meu registro. Está levando tanto tempo para sair e agora ele será lançado no final de fevereiro ou no início de março. Neste meio tempo, nós lançamos esse EP como tira gosto. São três músicas que farão parte do álbum e um b-side, intitulado “Bury My Heart”, um interlúdio. É um tipo de presente de Natal, para que a bola comece a rolar, porque está demorando muito.

Qual foi a causa que levou você a romper o contrato com a Sire Records, da Warner Bros.?

Era um relacionamento que não estava dando certo para ambas as partes. Foi angustiante no momento, mas quando eu olho para trás, agora penso que não foi tão ruim quando eu pensava que fosse. É só que os seres humanos precisam fundamentalmente de segurança. Nós também precisamos ser capazes de ver o caminho claro para onde estamos indo. Às vezes uma pedra gigante aparece no meio dele e você leve um mês para descobrir como faz para subí-la; ultrapassá-la e foi isso. Foi um relacionamento extinto.
Eu acho que esses selos, essas gravadores maiores estão tentando descobrir como vão fazer para salvar as suas peles. E os artistas estão tentando achar um meio de lançar a sua música, sem ter que assinar a sua vida - o que é insano.
Então apenas não estava dando mais certo. E eles me deixaram sair com o meu CD e sou muito grata por isso, porque eles poderiam ter me fudido totalmente.
Eu tive um relacionamento muito cordial e que acabou bem.

Quais foram os desentendimentos específicos que você consegue lembrar?

Eu acho que a citação foi “Spinnerette não é um bom desvio do Distillers”... O que é, em minha opinião, ridículo. [risos]

Um monte desses selos gostaria se algo não fosse muito diferente do trabalho anterior da banda, porque eles já saberiam como fazer o marketing disso.

Exatamente. Honestamente, eu acho que eles estão somente tentando descobrir como irão vender música nos dias de hoje e eu não caibo mais diretamente em algum tipo dessa “caixinha”. Então eu acho que você está certo - foi demais para eles. Eles não tem mais tempo para fazer isso mais (pensar em como lançar uma banda diferente da outra). Eles precisam lançar coisas... Não que a Katy Perry esteja nessa leva, mas eles precisam de algo definitivo. Sucesso [imediato]; uma banda de um hit só; algo que será imediatamente pop. Eu quero uma carreira tipo a da Dolly Parton. Eu quero tocar por um bom tempo.

Como foi passar os últimos anos focada na composição?

É engraçado, porque algumas vezes eu escrevo uma música e eu faço a mínima idéia sobre o que ela é, até mais tarde. Demora alguns meses depois que ressoe. Às vezes, a escrita profética. Como você profetizar coisas. Eu quero ser capaz de escrever mais coisas subconscientes, esquecer por um tempo e em seguida perceber o fato de que isso pode significar alguma coisa.

O line-up que gravou o EP - o baixista Alain Johannes, o guitarrista Tony Bevilacqua e o baterista Jack Irons - não será o mesmo da turnê, estou certo?

Não. Eu decidi assim dessa vez porque foi tão triste ter passado por tantas mudanças no line-up na minha banda, tentando achar pessoas que se encaixassem nela e eu fiz isso uma coisa temporária para os outros. E isso quer dizer que as pessoas podiam ir e vir como queriam e assim ser felizes. Eu escrevi a maioria do meu álbum do o Alain. Eu levei as minhas músicas para ele e nós trabalhamos juntos e daí surgiu o Jack, obviamente por conta da sua amizade com o Alain. Tony é um dos meus melhores amigos no mundo inteiro e ele sempre será meu guitarrista. Nós fizemos o disco juntos desse jeito e por essas razões não pudemos excursionar. Nós tínhamos vidas. Então precisávamos ir à procura de pessoas [para fazer a turnê] e isso foi uma espécie de luta. Levou um bom tempo. Na verdade, meses e meses e meses. Então eu achei algumas pessoas bem experientes. Eu acho que o quanto mais velho você fica, menos você fica disposto a lidar com as merdas de outra pessoa. Nem esperar que alguém lide com as suas, então achar pessoas que são ótimas instrumentistas e ótimas pessoas, foi cruelmente difícil. Porque ao mesmo tempo em que você acha esses incríveis artistas que são gênios em o que quer que façam, suas bagagens vêm com eles e eu apenas não tenho mais tempo de lidar com isso. Eu realmente achei ótimas pessoas. Uma delas é a [baixista] Nicole Fiorentino. Ela estava numa banda chamada Radio Vago, que inclusive tocou com o Distillers há anos. Ela é tão doce. Tão doce. Realmente ótima. As outras pessoas são Bryan Tulao e Dave Hidalgo Jr., que estava no Suicidal Tendencies e está na banda The Drips com o Tony, Joby J. Ford e Matt Caughthran, do The Bronx. Eu falei com o Joby na noite passada. Ele foi um amor. Eu amo aqueles caras. Então é um grande grupo de pessoas.

Então você na verdade não teve que procurar muito além dos seus amigos?

Eu quero dizer, de uma forma indireta, é engraçado como o destino intervém. Ou coisas que “são para ser” porque coisas acontecem por alguma razão. Tudo se encaixa no final.

A dificuldade de achar um line-up para a turnê foi parte da razão que fez você demorar a revelar as coisas?

Com certeza. Entre tentar descobrir como lançar a música e então achar pessoas para tocar ao vivo e fazerem parte disto e remasterizar múltiplas vezes, levou um ano e meio. Eu acho. Tem um ano... Fez um ano em outubro, mas nós ainda estávamos gravando. Então sim. Tem um ano. Mas é o seguinte, eu continuo compondo então eu devo lançar um EP e também um álbum completo. Continuamos gravando com o Alain.

Quais foram algumas das barreiras por qual você teve que passar por ter ficado independente pela primeira vez em uma década ou quase isso?

Achar dinheiro para lançar a música; para que ela tivesse promoção. Eu quero dizer, isso é na verdade o que você precisa: promoção. Mas nos dias atuais com a internet, não é tão necessário. Se algo é bom, chegará longe. Então não é mais necessário ter muito dinheiro por trás de você. Só mesmo grandes e boas idéias.

No momento estamos no selo dos manos do Rush (Anthem Records). O empresário deles começou o selo porque ninguém queria contratá-los, acredite se quiser. Eles faturaram trinta e cinco milhões de dólares no ano passado ou algo louco do tipo. Só em fazer turnê. E foi dessa forma irônica como fomos contratados por um selo independente recebendo ofertas de distribuição.

Eu definitivamente ouço um pouco de Queens of the Stone Age no EP. Você diria que é você sendo influenciada por eles ou é apenas a presença do Alain?

Eu tenho visto isso durante um bom tempo. Mas eu acho que tocar com o nível de perfeição de um profissional do jeito que eles tocam, eu não consigo. Alain, meu co-escritor e de fato um bom amigo, está nesse nível. Ele é ridículo. Seu talento é monumental. Ele tocando é algo de outro mundo. Então eu acho que essa é a razão do nível de profissionalismo que você provavelmente está ouvindo agora e não ouvia no Distillers, porque nenhum de nós consegue tocar daquele jeito. Então eu entendo que você tenha feita tal comparação e essa é a resposta, isso é o que é.

Tenho certeza que você não chamaria o Distillers de amador de forma alguma, mas essa era parte da característica da banda?

Sim, eu quero dizer, nós éramos crianças de vinte, vinte e um e vinte e três anos de idade quando a banda meio que decolou... Foi uma coisa totalmente diferente. Nós meio que crescemos juntos. Bebedeira realmente não mantém mais o mesmo apelo para mim. [Risos]. Mas naquela época...