Título Original: 24 Minutes With Brody Dalle Of Spinnerette - Antiquiet Interview
Por: Johnny Firecloud
Para:Antiquiet
Data: 3 de julho de 2009
Tradução: Angélica Albuquerque
A peça central da Spinnerette, Brody Dalle, percorreu um longo caminho desde seus dias como guitarrista / voz grave do Distillers. Uma frontwoman com bolas - e costeletas - que olha para baixo de qualquer homem que pensava que calças de couro e rock, eram só para os meninos.
Carregando a tocha acesa remanescente do legado de “garotas do rock” que Joan Jett começou a construir nos anos 80 (e você nem pense em citar o nome de Courtney Love), Brody levou o Distillers, por três álbuns e uma programação extensa de turnê, que ajudou a definir o punk moderno. Mas acabou por dar um fim à banda, oficialmente no início de 2006.
Após sair de cena por alguns anos para cuidar da sua vida, tendo tempo para a maternidade e para o casamento com o marido Josh Homme (Queens of the Stone Age), Dalle aliou-se com seu antigo companheiro de banda, Tony Bevilacqua e, com a ajuda de Jack Irons e do assistente de produção / multi-instrumentista Alain Johannes, fizeram um álbum que é evolução estilística de The Distillers e um revés para a boca de alguém que já disse que Brody era “apenas uma garota punk”.
O novo projeto, Spinnerette, centraliza-se na visão musical de Brody e dispõe de um espectro muito mais amplo do seu estilo anterior de trabalho. Nas próprias palavras deles: “Spinnerette é o som de uma luva de couro preta, suada, segurando um palito de pirulito, jogando-o aos cacos de vidro, antes de te oferecer a primeira lambida. Se isso fizesse algum sentido, isso seria Spinnerette. Há doçura e há ameaça. Você terá o desejo, apesar do perígo óbvio.”
Celebrando o lançamento de seu fantástico e homônimo álbum no começo deste mês, Spinnerette se lançou na estrada com um arsenal de novas músicas - e enquanto eles fazem uma dúzia ou alguns poucos shows, fica claro que isso não é só um projeto para testar as águas passadas do Distillers.
Brody nos convidou para contar um pouco sobre a vida com Spinnerette, sobre a importância da evolução individual e por que toda criança deveria começar sua jornada musical com o álbum “Rocket To Rússia”, dos Ramones.
Antiquiet: Com a Spinnerette você está tocando em tempos diferentes e mudando-os, ao invés de se estreitar e se limitar à crueza do punk rock, como você fazia no Distillers. O que lhe trouxe para este ponto?
Brody Dalle: Eu acho que se eu não fizesse algo diferente, provavelmente eu iria murchar e morrer. Você não pode fazer a mesma coisa toda hora. É preciso haver evolução. Fazer as mesmas coisas... quem quer isso? Eu não. É chato pra caralho. E eu tinha 24 anos quando fiz o Coral Fang. Eu era apenas uma criança. Isso não quer dizer que eu não vá fazer outro disco de punk rock, é apenas uma questão de como você o define. Para mim, o que é mais punk rock no momento é o foda do Brüno, saca? É a coisa mais punk que acontece no mundo inteiro.
Antiquiet: Você já viu o filme?
Brody Dalle: Não, mal posso esperar. Serei a primeira da fila. Eu vou socar as pessoas. Eu vou estar lá.
Antiquiet: Vocês passearam por vários estilos no álbum. Tem algum em especial que você gostaria de ir na próxima vez?
Brody Dalle: Sim, é uma coisinha chamada folk doom. Eu estou fazendo. Eu odeio demais folk, mas folk doom soa incrível.
Antiquiet: Folk doom? Tipo John Denver + Cannibal Corpse?
Brody Dalle: (Risos) É, exatamente.
Antiquiet: Tudo bem, eu só farei uma pergunta sobre o Josh... Dave Grohl disse algo sobre o seu marido estar trabalhando com John Paul Jones... O que isso quer dizer?
Brody Dalle: Eu não estou liberada para falar sobre isso...
Antiquiet: É justo... eu lembro ter lido algo que o Jack Irons disse há algum tempo atrás, sobre todas essas junções de pessoas que gostariam de estar fazendo umas sessões acústicas - que explodiriam as cabeças das pessoas, se elas soubessem quem estaria tocando naquele momento. Se você pudesse escolher a dedo um grupo de músicos e colocá-los num quarto juntos, só para trabalhar a mágica e ver o que poderia acontecer, quem seriam esses escolhidos?
Brody Dalle: Deus, eu não faço a mínima idéia... há muitas possibilidades. Eu acho que aquela coisa que você estava anteriormente falando sobre, que eu não estou permitida a comentar, é incrivelmente foda.
Antiquiet: Sério... O que faz ela ser incrível?
Brody Dalle: Apenas batidas e sons que você nunca ouviu antes!
Antiquiet: Ok, eu não vou forçar... Então, mudando de assunto, não há nenhuma maneira de parar os downloads gratuitos e os comerciantes livres. Qual é o impacto e quais são as perspectivas para uma banda como Spinnerette?
Brody Dalle: Bem, é engraçado como a interação social meio que destruiu um pouco a comunidade. Todo mundo liga os seus computadores e vão para um mundo que nem se quer existe e eu meio que fico viajando um pouco sobre isso. Mas até onde a música vai, se tornou um fast food e eu tenho certeza que o compartilhamento de arquivos tem a ver com o motivo de estar nessa situação, mas eu não sei. Nosso disco nunca vazou e ele ficou flutuando por aí durante dois anos.
Antiquiet: Dois anos?
Brody Dalle: Foi porque ninguém ligou e isso foi demais. Nada funciona com impacto mais. Ninguém está vendendo discos mais. Se isso fosse na época do Distillers, nós venderíamos cem mil, duzentos mil álbuns na America e o que parecia ser uma catástrofe, hoje é visto como uma puta revelação.
Antiquiet: Como você ganha dinheiro então?
Brody Dalle: Atualmente, eu não ganho. Digo, eu ainda recebo uns cheques por royalty do Distillers, que são bem generosos, mas você sabe, eu pago a minha banda para sair em turnê. Eu não sou paga. Eu levo um corte. Assim, eu estou longe da minha filha e eu não sou paga... [risos]... Entããão...
Antiquiet: Obviamente que isso não é sustentável...
Brody Dalle: É, bem, eu monto o meu negócio e é mais como uma parceria, então eu não sou mais uma escrava para fazer parte desse aglomerado e eu tenho liberdade artística. Isso é mais importante pra mim, do que qualquer outra coisa. Eu realmente não me importo sobre a venda de unidades, porque isso significa mais demanda e mais tempo longe. Eu gostaria de ser uma artista tipo o Tom Waits, onde eu só faria discos e ocasionalmente sairia em turnê. Eu faria só pelo puro prazer de fazer discos. E se um pequeno grupo de pessoas gostasse deles e quisesse comprá-los, então seria incrível. Eu sou sortuda.
Antiquiet: Na nossa entrevista no seu show da noite passada, eu contrastei a trajetória da sua carreira e da estrutura que você tem, diferentemente da Courtney Love, que fez uma bagunça fodida com ela mesma... calma, eu espero que vocês não sejam amigas...
Brody Dalle: Eu ocasionalmente falo com ela... “amigas”, você estaria forçando. Eu não sei.
Antiquiet: Bem, ela é talentosa, sem dúvida alguma, mas há essa reputação bizonha dela e também há muitos argumentos sobre quem escreve suas músicas. Isso é problema dela, mas agora você está passando por algo parecido, com pessoas dizendo que sua artwork parece com não sei quê e / ou que sua produção soa meio similar a produção do Queens, seja qual caso for. Isso entra na sua cabeça quando tem decisões artísticas?
Brody Dalle: Não... Eu faço o que eu quiser fazer. Eu não ligo se tinha uma mulher seminua na capa do primeiro CD do Queens. E daí? Essas pessoas são ridículas. As curvas são essencialmente femininas e é por isso que há um torso vestido com a porra de um espartilho na capa do meu CD.
Já a minha produção, não tem nada a ver comigo. Vocês têm que ver isso com o Alain. Ele e Josh passaram muito tempo juntos em estúdios, durante anos e eu tenho certeza que eles tem um monte de técnicas parecidas ou iguais.
Antiquiet: Você também não procurou nenhuma banda de bar pra fazer o disco.
Brody Dalle: Exato, também tem essa coisa dos músicos de alto nível tocando no disco - Alain Johannes, esse cara... ele é o melhor músico no mundo todo, em minha opinião. Os tipos de instrumentos que esse cara pede através da internet, da China, ele os usa e os masteriza de forma insana. Então eu sinto que as guitarras no meu CD estão tão boas, que se você me diz que elas estão parecendo com as do Queens of the Stone Age, eu não terei problema algum com isso [risos]. Porque, realmente, elas estão do caralho. Meu marido não escreve as minhas músicas. Ele nunca irá escrevê-las. Ele me pediu um riff e uma canção, recentemente, mas eu nunca irei fornecer isso pra ele, por conta de toda a merda que teríamos que aturar depois. Mas eu espero que isso desapareça um dia.
Antiquiet: Eu recentemente vi um filme fantástico, chamado It Might Get Loud, que tem todas essas conversas de momentos íntimos com Jack White, The Edge e Jimmy Page e eles não fazem nenhuma tentativa de esconder o seu amor por e pelos derivados do blues. Você disse numa entrevista recente que você amava Howlin' Wolf... O que você extrai desse estilo?
Brody Dalle: Eu nem saberia como extrair algo disso. É tudo o que eu ouço no momento, é tudo o que eu posso ouvir - a Chess Box dele, tem tipo umas 73 músicas. Está no meu carro, no meu iPod, no meu computador, é realmente a única coisa que eu tenho escutado. É realmente confortante.
Antiquiet: O que te atraiu para ela?
Brody Dalle: Nós temos jantares e coisas do tipo, que fazemos ouvindo algumas coisas. E alguém uma vez colocou uma música do Howlin' Wolf, chamada “Down In the Bottom”. E foi isso. É uma das minhas músicas favoritas. Eu não sei, só faz com que eu me sinta segura por dentro. [risos]
Antiquiet: Obrigada por tirar um tempinho para nós. Uma última pergunta: Qual conselho você daria para uma criança que está sentanda em seu quarto, com uma guitarra e alguma inspiração, mas sem idéia alguma do que fazer com ela?