Saturday, September 24, 2011

Entrevista com Brody (Vocalista e Guitarrista) e Ryan (Baixista), do Distillers

Título Original: "An Interview with Brody (singer and guitarist) and Ryan (bass) of The Distillers"
Por: Kristin Belmonte
Para: Sink Hole Zine
Data: 14 de Fevereiro de 2002
Tradução: Angélica Albuquerque


14 de Fevereiro de 2002, Dia de São Valentim... Também dia que o Distillers começou a sua turnê com o Suicide Machines e Sick of It All, em New Haven, CT. Mas por ser um dia todo meloso sobre flores e amor e coisas do tipo, ele não tem sido um bom dia para todos. O Distillers perdeu sua guitarrista, Rose “Casper”, todos pareciam estar cansados e... Bem, só um bocado abatidos, e o dia não tinha sido tão legal para mim também. Eu sabia que a banda deveria fazer passagem de som e eu não acho que fizeram. Eu me pergunto o porquê. Eu entrei no Toad’s Place (o clube) cerca de duas horas antes do show e a banda estava sentada no meio do chão, com seus equipamentos por todo o lugar, apenas conversando. Uma das outras bandas estava fazendo a passagem de som, então foi bem barulhento. Brody estava contente em me mostrar sua guitarra que tinha acabado de passar por uma transformação; ela a pintou com spray branco (“Está tudo branco lá fora!”). Então eu e Brody fomos a uma mesa no canto e começamos a conversar, mas a conversa não chegou nem a 10 minutos, o lugar estava tão barulhento que não conseguíamos nos ouvir. Então, descemos um lance de escadas e encontramos o camarim. “Nah”. No final do corredor, encontramos Ryan, o baixista. “Ei, Ryan! Quer fazer uma entrevista?!” “Ok.” Nós nos estabelecemos no banheiro feminino, e já que Brody teve que mijar, foi conveniente. Ryan foi equipado com um vidro de esmalte e começou a trabalhar na pintura. Ele estava bem concentrado em suas unhas, eu percebi. Acho que ele estava pintando de marrom...


Sink Hole Kristen: Então, vocês acabaram de lançar um novo álbum na semana passada, vocês têm alguma explicação por trás do título, Sing Sing Death House?

Brody: Eu estava assistindo ao documentário “Sing Sing Death House”, feito na prisão. Eu gostei de verdade do título como referência para uma pessoa. Como no livro dos sonhos, uma casa representa você mesmo, o seu corpo. É daí de onde ele veio. “Sing Sing Death House” não é uma catarse, é apenas uma representação de lidar com as merdas, como os problemas.

SHK: O CD foi lançado no dia do meu aniversário, aliás...

Brody: Sério? Feliz Aniversário!

SHK: Obrigada, foi um presente bem bacana.

SHK: Como era a cena e as pessoas em geral, na Austrália?

Brody: A Austrália é engraçada, eles são realmente bons em zombarem de si mesmos... Embora seja bem diferente, há apenas 18 milhões de pessoas em toda Austrália comparada aos bilhões nos Estados Unidos espalhados na mesma quantidade de terra. A cena é boa, porém pequena. Eu costumava frequentar um clube punk chamado Art House. Sinceramente, eu não sei como ele está - A última vez que estive lá foi há uns dois anos.

SHK: Você sente saudade?

Brody: Sim... Eu sinto falta da minha família e dos meus velhos amigos.

SHK: De qual você gosta mais, Austrália ou Estados Unidos?

Brody: Ambos são similares e diferentes. A América é um grande colosso. Eu creio que eu ache difícil voltar e morar na Austrália, depois de viver por muitos e muitos anos aqui.

SHK: Sobre sua vinda para a América, você apenas quis deixar a Austrália? Como isso aconteceu?

Brody: Eu e Timothy (Armstrong) estávamos saindo há cerca de um ano quando eu me mudei para cá para ficar com ele.

SHK: Isso é fofo... Porém triste, pois é Dia de São Valentim.

Brody: E eu estou aqui e não em casa...

SHK: Não é exatamente como você desejava passar o seu dia dos namorados?

Brody: Você perde um monte de coisas quando está longe na estrada. Você perde o aniversário das pessoas, todo esse tipo de coisa.

SHK: E como estão as coisas com você e Tim?

Brody: Ótimas, nos acabamos de fazer aniversário. Quatro anos de casamento.

Brody: (enquanto checava a minha mochila) Eu adoro essa banda (apontando para um patch do Unseen).

SHK: Eu os vi há duas semanas...

Brody: Eles são ótimos, eu estava lendo uma entrevista com eles.

SHK: Então, o seu baterista é do Nerve Agents, vocês estão compartilhando ele ou qual é a situação?

Brody: Bem, o Nerve Agents acabou de se separar (essa foi uma notícia quentíssima no momento). Eles se separaram há menos de um mês e isso é realmente triste porque eles eram uma das minhas bandas favoritas. Eu meio que ainda estou delirando. É uma pena, porque eles eram foda. Enfim, quando o Andy entrou na banda era para ser permanente, mas é definitivamente permanente agora.

SHK: Quais são as suas outras bandas favoritas?

Brody: Bem, como eu disse, eu gosto muito do Unseen. Eu gosto do Death Wish Kids, eu amo Blitz. Você sabe, a linhagem padrão do punk rock - The Exploited, The Ramones. Eu curto Rancid (óbvio!). Eu na verdade não consigo pensar em bandas novas que eu curta.

SHK: O que você ouvia quando era mais jovem, quando você começou a ficar antenada em tudo?

Brody: Eu tinha acabado de completar 12 anos em 1991 e o Nirvana e o Sonic Youth estavam em evidência e toda aquela cena foi enorme. Eu gostava demais de Fang. Você gosta de Fang?

SHK: Nunca ouvi.

Brody: Ahhh... Cê precisa ouvir Fang... (o som da bateria e das guitarras de repente ficaram altos demais) Talvez devêssemos encontrar outro lugar para conversar.

Brody: (continuando) Onde nós estávamos? Oh, eu estava te contando sobre o Fang, você precisa ouvir essa banda. Eles influenciaram tantas bandas. Eu juro que o Kurt (Cobain) ouvia Fang, você pode claramente ouvir isso no começo do Nirvana. Eles eram ótimos, daí o Sammy (o líder da banda) matou sua namorada e todo mundo renegava quem ouvia Fang. Ele era uma porra louca. É, você deveria arrumar um disco do Fang. Eu acho que de é onde todas as bandas grunges tiraram suas idéias.

Ryan: Certeza, eu acho que tudo de Seattle meio que veio do Fang.

Brody: Porque o Fang estava constantemente fazendo turnê pra cima e pra baixo pela Costa Oeste.

SHK: Então como foi (para o Ryan), você trabalhava em uma loja de discos quando eles encontraram você?

Ryan: Eu de verdade odeio trabalhar, mas você precisa fazer isso, então eu sempre tentei ao menos trabalhar em lojas de discos. Era uma loja de discos / histórias em quadrinhos / brinquedos, então era um pouco divertido. Eu estou muito contente em não estar fazendo isso no momento - muito contente.

Brody: Eu gostava daquela loja. Eles tinham ótimas coleções lá, boa seleção.

SHK: Qual era o nome? (adicione comercial aqui)

Ryan: Era chamada de Axis Records and Comics e era cheia de coisas que você não conseguia achar em lugar algum. Diversas coisas sem valor.

Brody: Você é daqui? (New Haven, Connecticut)

SHK: Sim.

Brody: Como é a cena?

SHK: Tem bastante gente dependendo do lugar para onde você olha...

Brody: Nós chegamos aqui ontem à noite e estávamos tentando achar alguns locais abertos, como uma banca ou qualquer coisa, mas estava tudo fechado. Nós tivemos que dirigir até Nova Iorque (nota: tirando sarro do sotaque de lá)...

Ryan: A única coisa que eu notei foi que todos os edifícios acabam sendo edifícios da faculdade. Eu vi algo que parecia ser uma igreja, não, era uma biblioteca.

SHK: É tudo da Yale (universidade). Todos os idiotas da Yale circulam por perto...

SHK: A música “Desperate” é sobre vício em heroína - Ela é sobre você ou sobre alguém que conheça?

Brody: É no geral. Ela afeta muitas pessoas. Um monte de gente da cena punk, especialmente. Essa merda é foda e perversa. Ela é o diabo, não é nem um pouco legal, não faça. É, isso é tudo o que eu digo - não faça!

SHK: Sourpuss... Conte-me sobre toda a experiência.

Brody: [falando baixinho] Deus, eu odiava aquela banda...

SHK: Oh, você odiava a banda, ok.

Brody: [fazendo air guitar] Não, eu não odiava, é que foi a minha primeira banda. Ela foi formada quando eu tinha 14 anos e apenas durou 2 anos. Era uma banda de meninas, banda de punk rock de meninas. Sabe, umas garotas de 14 anos tentando tocar bem rápido, só que na verdade não sabíamos como fazer. [a air guitar começa a ser tocada BEM rápido] Nós todas aprendemos juntas, então isso foi bacana, mas foi uma bagunça do caralho.

SHK: Quantos anos você tinha quando ouviu punk pela primeira vez?

Brody: Eu tinha 13 anos. Minha primeira banda (que eu ouvi) foi Discharge. Ela continua sendo minha banda favorita. Fucking Discharge.

Ryan: Eu? Comecei na mesma época, com 12 ou 13 anos. Havia um cara que trabalhava na mesma loja de instrumentos que eu, que me apresentou ao Germs e ao Bad Brains. Eu era um rato do skate quando eu era mais novo, então eu estava dentro de toda aquela merda desagradável de Red Hot Chili Peppers, eu acho que foi o que me fez entrar pra isso.

SHK: Por aqui a maioria das crianças começam com metal e graduam-se para o punk.

Ryan: Eu sou o oposto, eu amo metal!

SHK: Então, vocês estão bem envolvidos na Hell Cat?

Brody: Eu e Timothy, às vezes, vamos checar juntos algumas bandas, a galerinha me manda seu material o tempo todo...

SHK: Por quanto tempo você frequentou a escola católica?

Brody: Por 3 anos. Eu era de uma, daí fui expulsa, então pemaneci na segunda por cerca de 3 anos. Eu larguei a escola no nono ano. Eu odiava a escola. Era uma merda. Eu acho que todo mundo odeia. Há alguém que goste de escola? Eu não posso funcionar corretamente sentada na mesma porra de posição por uma hora.

SHK: Eu costumava ir para a escola católica por um tempo e realmente era uma bosta.

Brody: Você foi batizada?

SHK: Sim.

Brody: Eu não. Eu não fui batizada e isso me causou problemas. Eu arrumei problemas por beber o sangue de Jesus e comer sua carne. “Você não é uma criança de Deus”, era o que diziam. Foda-se! Eu só quero ficar bêbada com essa merda. Cara, eles são as mesmas coisas. Católicos são bêbados! É uma espécie de hipocrisia. Eles todos são pedófilos também.

SHK: Você alguma vez ficou puta por conta de algumas comparações com o Rancid?

Brody: Não! Eles são foda e são meus melhores amigos. Por que isso seria ruim?

SHK: Em tudo o que você lê nas revistas e tal, as pessoas estão SEMPRE comparando ou linkando você ao Rancid...

Brody: Isso natualmente acontece porque eu sou mulher dele, mas acho que isso é jornalismo preguiçoso. As pessoas são rápidas num assunto sem mesmo terem se aprofundado nele. O que você vai fazer?

SHK: De onde você tirou a ideia da música “Gypsy Rose Lee”?

Brody: Da Gypsy Rose Lee... É, de verdade, sobre uma mulher que me criou; me educou quando eu era mais nova. Quando eu era bem pequena, nós brincávamos que eu seria a Marilyn Monroe e minha amiga seria a Gypsy Rose Lee. Ela teria que dançar com uma capa e sem calcinha - ea tinha 5 anos...

SHK: Várias músicas suas falam sobre vida familiar turbulenta e...

Brody: Todos nesta banda vêm de uma família disfuncional. Um monte de pessoas que você conhece no punk rock vem de uma família disfuncional.

SHK: É por isso que nos conectamos com a música.

Brody: As coisas estão bem melhores agora entre minha mãe e eu. Eu acho que com as meninas e suas mães, você alcança uma certa idade e então há essa tensão inegável. Você está tentando sair do ninho, ela quer que você fique... Eu que acho que pra mim, eu tive que perceber que minha mãe era sua própria pessoa. Foi bem esquisito - Quero dizer, quando você finalmente percebe que sua mãe é o seu próprio ser humano com sentimentos reais. Quando você percebe que embora ela seja sua mãe, ela é uma mulher com sua própria identidade. É algo esquisito para ser digerido, mas uma vez que você o faz, você se torna muito mais respeitoso. Eu tive que ser amiga da minha mãe antes de voltar com aquele relacionamento mãe e filha. Eu tenho certeza de que é assim também com pais e seus filhos.

Ryan: Com o meu pai, eu sabia que ele era sua própria pessoa, então isso não importava. Conosco, o problema era ele perceber que eu não seria exatamente o que ele queria. Minha mãe e eu nos damos bem. Com o meu pai, é um pouco esquisito, mas é porque ele é treinador de futebol americano do colegial.

Amiga da SHK (desculpe, não sei o seu nome - editor): O que você faz para se divertir quando não está na estrada?

Brody: Eu gosto muito de livrarias. Eu saio com os meus amigos. Eu meio que sou caseira. Nós temos dois gatinhos. Eu cozinho, relaxo, assisto filmes, escrevo...

Amiga da SHK: Qual é o seu filme favorito?

Brody: "O Poderoso Chefão".

Amiga da SHK: O meu é "Scarface"!

Brody: Boa!!! "Scarface" é bom, eu gosto de "Os Bons Companheiros" também. Filmes de máfia detonam! (falando para o Ryan) ele é o único que ainda não viu "O Poderoso Chefão"! Eu não consigo acreditar nisso.

Ryan: Nem o Andy e nem o Tony (o técnico de guitarra).

Brody: Isso é inacreditável. É um dos filmes mais famosos na história do cinema. Você precisa assistir, cara. Embora eu não curta o terceiro - é uma bosta. O primeiro e o segundo são incríveis.

SHK: Você não é grande fã de filmes de máfia?

Ryan: Não, eu adoro filmes de máfia! "Os Bons Companheiros" e "Scarface" são dois dos meus filmes favoritos de todos os tempos.

Brody: É, além dos filmes de "O Poderoso Chefão", há um filme francês chamado "Betty Blue", que eu gosto bastante. É a estória sobre um relacionamento entre uma garota porra louca e seu namorado e eles vivem em uma cabana na praia. É um filme divertido - ele é legendado, mas é ótimo. Você TEM que assisti-lo. Aquela garota é tão linda! Ela é a razão de eu pintado o meu cabelo de preto. Ela atualmente está afundada no crack, mas naquela época... Ela era linda pra caralho! Ela tinha essa lacuna em seus dentes e (fazendo movimentos com as mãos para mostrar grandes seios).

SHK: Bem, eu sei que vocês precisam ir, mas eu queria terminar esta entrevista com vocês descrevendo a banda em 5 palavras.

Ryan: Nós somos o Distillers.

Brody: Isso são 4 palavras, imbecil. Ela disse quatro palavras, não sílabas. ([esitando em pronunciar] Mais putos do que nunca.

Ryan: Que tal “Hey, somos o Distillers”?
(nota do editor - continua com só quatro palavras)