A Lenda de Brody Armstrong
Título Original: "Rough Punk Riders"
Por: Jennifer Maerz
Para: thestranger.com
Data: 23 de Maio de 2002
Tradução: Angélica Albuquerque
Ao longo dos anos, o mundo do rock tem sido marcado pela obscuridade, cantores com gargantas inflamáveis que libertaram gritos que poderiam raspar a sujeira para fora de calçadas da cidade.
Os dois primeiros álbuns do Hole estão repletos de podridão e de raiva vindas da Courtney Love; Kurt Cobain poderia berrar como um animal raivoso; e ouvir o Appetite for Destruction foi como ouvir Axl Rose ir do grito ao assobio, cantando sobre os zumbis de Hollywood.
Para quem está perguntando sobre o próximo cão rosnento enviado ao inferno, conheça o Distillers: Brody Armstrong, guitarrista e vocalista da cena de Los Angeles/Bay Area, poderá ser a líder da próxima geração de berros. “Eu não acho que outra pessoa consiga cantar como ela,” declara Brett Gurewitz, do Bad Religion e dono da Epitaph Records, que lançou o mais recente disco do Distillers, Sing Sing Death House. “Ela tem uma voz incrível. Ela soa como um caminhão de cascalho com um eixo quebrado, mas ela nunca perde uma nota.”
Em Sing Sing, a australiana de 22 anos une seu ulcerado passado em Melbourne com corajoso músicas com grandes ganchos, usando seu vocal “caminhão de cascalho” para passar por cima de anos de conflitos familiares, dependência de drogas e choque cultural.
“Eu era uma criança muito triste,” ela admite da sua atual casa em Los Angeles. Quando adolescente, ela escrevia poemas sobre a escuridão, estupro e raiva. Sua mãe, uma enfermeira de carreira, expulsou o pai biológico de Armstrong por causa de abuso físico, então se casou novamente e teve uma filha com o novo marido. Armstrong se sentiu como uma estranha em casa e na escola, onde ela não estava exatamente obtendo renovação de espírito. Eventualmente, ela partiu para as ruas, pensando que viver em becos vencia a luta em casa.
“Por volta dos 13 anos, eu comecei a ficar com muita raiva e ódio da minha mãe - Quero dizer, comecei realmente a odiar a minha mãe,” Armstrong admite. “Ela me odiava também. Nós acabávamos sufocando uma a outra na cozinha. Eu sempre fui uma garota com raiva, então eu comecei a fugir e fazer coisas de adolescente [com raiva] - me cortando, me drogando, não indo à escola.”
Case vitrola com vinil e você então tem os ingredientes para boa música - algo Armstrong descobriu através do disco Why, de 1981, da banda de hardcore britânica Discharge. “Eu amei porque era muito rápido e muito louco,” ela conta. “Eu nunca tinha ouvido nada igual a isso - Tudo gritado. Tenho que certeza que eu não entendia na verdade muito sobre política, mas era exatamente como eu me sentia. Era exatamente o que eu queria dizer.”
Em meados dos anos 90, Armstrong pulou para dentro da cena, puxando algumas amigas para tocarem juntas em uma banda chamada Sourpuss. Na véspera de Ano Novo de 1995, o Sourpuss conseguiu um lugar num palco do Somersault Australia Festival, onde a programação incluiu Sonic Youth, Beastie Boys e Rancid. Durante esse show, Brody conheceu seu futuro marido, Rancid, Tim Armstrong, “Foi uma espécie de amor à primeira vista,” diz ela com naturalidade - e deu o pontapé inicial de sua carreira na música.
Quando Brody completou 18 anos em 1997, ela se mudou para Los Angeles para viver com Armstrong. Formou o Distillers com a baixista Kim Chi, que trabalhava nos escritórios da Epitaph; o baterista Matt Young; e a guitarrista Rose “Casper”. Em 2000, a gravadora de Tim Armstrong, Hellcat (casa do Rancid, Joe Strummer e US Bombs), lançou o disco homônimo e de estréia do Distillers. Desde então, o Distillers trouxe um novo baterista, Andy (sem sobrenome) - quem Armstrong conheceu quando o Distillers estava em turnê com outra banda de Andy, The Nerve Agents - juntamente com o novo baixista, Ryan (também sem sobrenome), que ela conheceu em uma loja de discos.
Com uma nova formação (a banda é agora um trio, já que Casper recentemente deixou o grupo) e um novo álbum, Armstrong também revela em sua voz recém-descoberta, um uivo cuspido que é navalhado do grave e rouco para forte e pesado. Cada canção é servida com um grunhido conforme Armstrong deixa marcas de presas em uma série de questões sociais, de tiroteios na sala de aula a os distúrbios alimentares para bater o vício em heroína. As músicas são curtas e agridoces, com riffs old-schools e melodias cativantes. Durante todo o disco, Armstrong cria hinos para o desafeto e a banda desfila por aí com sensibilidades repetitivas e turbulentas. Sua composição também melhorou sensivelmente. Foram embora os finais com “Fuck You’s” repetidos e vagas referências a casos de amor mal resolvidos e meninas incompreendidas. Sing Sing mostra a capacidade de Armstrong perceber seus pontos fortes presentes, tendo um olhar honesto sobre seu passado. Ouvir o álbum é como assistir a um filme em Super-8 mm, que o leva junto com Armstrong, os becos de Melbourne para as ruas de LA - diminuindo o zoom para atingir adolescentes fudidos e ampliando para lutar com os problemas pessoais de Armstrong. E embora as histórias possam ser as mesmas informadas pelo junkies, punks e fugitivos em todo o país, Armstrong oferece suas mensagens com uma ferocidade sem precedentes, fazendo dela uma das melhores vocalistas que há por aí.