Saturday, September 24, 2011

Entrevista Para o site Tlchicken.com

Título Original: “THE DISTILLERS interview and imagery by Debbie”
Por: Debbie
Para: tlchicken.com
Data: Março de 2002
Tradução: Angélica Albuquerque



Se o punk rock era um reduto fortificado, essa garotada estaria equipando os ninhos do injetor. Entre o vocal bombardioso de Brody Armstrong e as rápidas rajadas de fogo da bateria de Andy Outbreak, Debbie penetrou-se pela cerca de arame farpado para trocar umas palavras com dois membros do Distillers.

[No banheiro feminino]

Debbie: Como as mudanças na formação da banda surgiram?

Brody: Nós estávamos em turnê e não deu certo com Kim e Mat. Então eu chamei o Andy e o Dante do Nerve Agents para preencher o espaço durante a turnê com o Rancid e AFI. Nós adoramos o Andy e quisemos mantê-lo. Ele estava nas duas bandas, porém o Nerve Agents acabou. Então ele está em tempo integral no Distillers. O Dante não deu certo e aí achamos o Ryan. Ele trabalhava numa loja de revista em quadrinhos, discos e brinquedos em Fremont. (Pergunta para o Tony, o roadie) Está certo? Fremont?

Tony: (balançando a cabeça) Fremont.

D: Fremont? Onde fica isso? Virginia?

B: Califórnia.

D: Eu sabia. Agora, não me entenda mal, eu amo o primeiro álbum. Mas Sing Sing Death House é tão sólido do começo ao fim. O que mudou em vocês e na sua abordagem de fazer música entre o primeiro disco e esse atual?

B: Bem, eu acho que o Andy é um baterista melhor do que o Mat (Young) foi; sem desmerecer o Mat ou algo assim. Andy é como um poço de energia. Ele apenas dispara e ele é realmente inovador. Um baterista é geralmente como a espinha dorsal. Eu estou para o Andy e ele está para mim. Então isso funciona bem. E Ryan só tem tocado baixo há um ano e ele é realmente bom. Então é como se fossemos uma família agora.

D: Então há essa energia toda acontecendo e sendo transferida para todos da banda de uma só vez?

B: Sim.

D: As composições do novo disco são realmente inteligentes. Eu fiquei passada pela forma como você expressa essas emoções muito fortes com esse vocabulário muito inteligente. Honestamente, eu tive que pegar o dicionário algumas vezes enquanto ouvia o disco.

B: (Risos)

D: Você usou palavras como “dionisíaco”, “pungente”, “vitriólico” e “revenir”. Este é um aspecto do quanto você se empenhou nas letras ou apenas aconteceu?

B: Não. Apenas aconteceu. Eu realmente queria trabalhar duro em minhas letras. O último disco é mais abstrato. Foi o primeiro disco que eu fiz, então eu apenas estava semeando os grãos. Eu tenho lido bastante e eu tenho um monte de amigos inteligentes. (Risos) Isso ajuda, sabe?

D: (Risos) Sim. O que você está lendo?

B: Um monte de histórias sobre fantasmas e ficção. Eu tenho um bom dicionário de mitologia, que é de onde eu tirei “revenir”. E, no último disco, “oldscratch” [nota: apelido do diabo]. Então várias dessas palavras estão lá. É como se fosse o meu esconderijo secreto.

D: Qual era seu objetivo principal desde quando -

[Entra um som altíssimo de um walkie-talkie, junto com um segurança]

Segurança: (com um ar convincente de autoridade) O que está acontecendo aqui, amigos?

B: Estamos apenas fazendo uma entrevista. Está bastante barulhento fora daqui.

[Segurança deixa o local]

D: Ok. Qual era seu objetivo principal desde quando começou a fazer música?

B: Eu acho que apenas continuar tocando; apenas continuar suplantando o último disco. Eu acho que nós somos bastante ambiciosos. Eu quero pagar a hipoteca dos meus pais. Você sabe o que quero dizer? Tudo o que eu sempre quis fazer era tocar e cair na estrada e fazer discos. Trabalhei tanto que essa foi uma oportunidade perfeita. Apenas trabalhar duro. Nós ralamos.

D: Isso aí. Fazer turnê não é brincadeira. Sabe, fiquei surpresa com o quanto -

[Segurança volta]

S: (com ainda mais autoridade) Desculpe-me. Sua entrevista acabou. Temos que fechar.

D: Ah. Estamos saindo.

[Agora num beco do lado de fora]

D: Como você lida com a imagem popular da música punk e os jovens que estão nela pelo estilo e não pela mensagem?

B: Bem, eu acho que você acabou de ajudá-los a achar a mensagem. Ajudou-os a assimilar o preço real. Eu não conheci muitos jovens assim. E, se eu conheci, eu na verdade não notei e eu não discrimino. Todo mundo começa em algum lugar. Eu detesto toda essa coisa de “sou mais do que você”, “Eu sou mais punk que você.” Isso é uma palhaçada. Eu não ligo. Isso não me incomoda.

D: Isso é meio constrangedor, mas você tem algum conselho para alguém que gosta de ouvir punk, mas não conhece muito sobre o assunto?

B: Compre um monte de discos. Compre um monte de discos das antigas. Descubra as influências das bandas que você está ouvindo. Vá além da linhagem. Busque o seu punk inglês, o seu punk americano. O seu punk da Costa Leste, da Costa Oeste, Ramones, Circle Jerks, Black Flag e X. Então há uma grande mistura entre isso.

D: Quais você apontaria como os seus essenciais, então?

B: Discharge é o meu primeiro. Eu amo Black Flag e todos os caras. E Ramones, claro. E eu gosto de Blondie... Um pouco mais suave.

D: (Risos) A velha Blondie do CBGB's.

B: Sim.

D: Você alguma vez já leu as matérias sobre a banda?

B: Ocasionalmente. Eu tento não ler.

D: Há alguma coisa nisso que você detesta?

B: Não. Se você ficar muito envolvido nisso, provavelmente você irá se aborrecer. Ao mesmo tempo, nós temos um monte de opiniões positivas. Não é importante para o funcionamento da banda ou para o que fazemos. Essas são apenas muitas opiniões das pessoas sobre o que vêem. Um monte de gente projeta coisas em você, mas tudo bem.

D: É. Provavelmente eu não deveria ter feito àquela pergunta, considerando que eu sou da media.

B: (Risos).

D: Nós não somos media de "massa". Nós apenas tentando ter um bom momento. Honestamente. Há algo na sua vida que você acha que irá chocar e surpreender os seus fãs?

B: (Longa pausa seguida por risada) Eu não sei! Eu creio que não. Conforme eu disse, isso são as pessoas projetando coisas em você. Cada um é a sua própria pessoa. Quando você conhece alguém pela primeira vez, isso não é o livro inteiro. É apenas a primeira página.

D: Você sendo australiana, qual você acha que seja o equívoco sobre a Austrália que a Cultura pop e a TV americana têm degradado além da crença/opinião?

B: Victoria Bitter. Não, isso é o que eu bebo. Qual é a outra baboseira?

D: Foster's?

B: (Levando as mãos à cabeça por desgosto) Foster's! Ugh! Eu nem sequer consigo lembrar do nome. Ninguém na Austrália bebe Foster's. Parece mijo.

D: Mas ela vende em barril!

B: É mijo.

Alguém (que tem estado por perto a todo instante): Mas ela é australiana e engarrafada no Canadá.

B: (risos) O que você bebe aqui que está no último lugar da lista?

D: Eu venho da família Miller. A “cerveja mascote” da equipe do nosso site é qualquer coisa Miller, de preferência High Life e Red Dog. São as nossas cervejas. Mas no último lugar da lista - Na verdade, Foster's está no último lugar.

B: (Risos) Nem mesmo os punks que passeiam pelos becos, bebem Foster's. Nós bebemos VB, Victoria Bitter, que é muito melhor. [nota: Brody voltando a responder a pergunta] Isso e “camarão na grelha”, eu nunca comi um camarão grelhado até eu me mudar para este país.

D: (Risos) Ai, Deus. Desculpe-me. Em nome da América.

B: (Risos) Não, não. Tá tranquilo. A imagem que é retratada aqui - que vivemos no Outback e coisas do tipo - não é verdadeira.

Alguém: Crocodilo Dundee arruinou vocês.

D: É. Não existe nenhum wallaby [nota: da mesma família dos cangurus] no quintal? Como assim? OK, esta é a nossa pergunta carimbada. Nós perguntamos para todos: Cães têm lábios?

B: Se cães tem lábios?

D: Entramos em um argumento há anos e isso passou a ser perguntado desde então.

B: Eu acho que eles têm. Bem pequenos, bem finos.

D: Isso aí.

B: Eles precisam de algo sobre os dentes. Eles lambem os seus lábios. Eu acho que eles têm. Creio que você esteja certa.

[Chega Andy Outbreak, o baterista do Distillers]

D: (Para o Andy) Hey, e aí?

Andy: Hey.

B: Esse é o Andy.

A: É. Nos conhecemos mais cedo.

D: É difícil manter o ritmo com verdadeiros atos hardcore punks como No Doubt e Sugar Ray?

B: (Risos) Não estamos obcecados com eles?

A: Sim.

B: Nós estamos meio que obcecados agora.

D: Com quem?

A: No Doubt.

B: Toda vez que vamos para um hotel, assistimos TV só para ver aquele vídeo. Qual é? “Hey Baby”?

A: Sim.

B: Nós todos ficamos esperando, suplicando, rezando para que ele apareça. Nós estamos totalmente obcecados com ele. Chega a ser idiota.

D: Hey, você tem que manter o olho na concorrência.

B: (Risos)

D: Quais são as influências de vocês, fora do nicho do punk rock?

A: Bem, Nirvana ou Pixies. Todos os tipos de coisas. Coisas antigas, como Sam Cooke.

B: Eu gosto de Smokey Robinson.

A: Smokey Robinson, verdade.

B: Nós também ouvimos PJ Harvey; um monte de músicas para dirigir. Você precisa de algo mais relaxante no carro.

A: Eu gosto muito de Queens of the Stone Age e Rocket From The Crypt.

D: (Ofegante) Isso aí, porra! Existe alguém que vocês queiram mandar se fuder? Tipo alguém que tenha tirado vocês do sério nos últimos meses?

A: Peter And The Test Tube Babies.

B: Isso. Aquele cara pode ir se fuder. Aquele cara é um otário.

D: Ele aprontou alguma coisa com vocês ou algo do tipo?

A: Não. Ele apenas foi um babaca conosco. Ele foi um cuzão. Nós nos apresentamos nesse Holidays In The Smoke, em Londres -

B: - No Astoria. Nós estávamos lá em cima deste pequeno camarim. Nós estávamos acordados desde o dia anterior, porque tínhamos que pegar uma balsa para atravessar para Londres. Então nós estávamos exaustos pra caralho, dentro desse pequeno camarim. Eram tipo, dez bandas tocando, desde GBH a Peter And The Test Tube Babies. Tínhamos feito dez entrevistas. Estávamos sentados lá, tentando relaxar e daí surge esse cara estúpido, essa porra desse rapaz inglês com suas dez mochilas enormes. Ele as lançou para dentro do camarim e ficou nos encarando. Ele ficou tipo, (com um sotaque inglês de meia tigela) “Que diabos são vocês?” e nós respondemos, “Nós somos os Distillers.” E ele olhou na lista. Daí ele virou e disse (com o mesmo sotaque britânico de antes) “Vocês têm que sair daqui, agora.” Nós falamos, “O quê? Quem você pensa que é?” E ele respondeu, “Eu sou o Peter do Peter And The Test Tube Babies.” Ele ficou todo putinho porque a gente não sabia quem ele era. A gente falou tipo, “Foda-se, cara!” Nós acabamos dormindo em cima dos amplificadores e etc. Aquela foi a pior noite da minha vida.

A: Essa foi a pior experiência de “rock star” que eu já tive. Quem é esse cuzão?

D: É. Quem esse cuzão é?

A: Foi pior do que conhecer Michael Jackson. Ele provavelmente teria sido mais legal do que esse idiota.

Alguém: Bem, essa é a tendência. Quanto menor você for, maior você acha que é.

B: Isso.

D: Bem, mijem em cima dele agora. Nossos leitores irão parar de comprar os discos dele.

B e A: (Risos)

D: Vocês têm algumas considerações finais ou algo que queiram dizer?

B: (saltando para cima e para baixo) Oi!

A: (Risos) Oi!