Saturday, September 24, 2011

No Punk Nós Confiamos

Título Original: "In Punk We Trust"
Por: Mat Hocking
Para: Drowned in Sound
Data: 21 de Junho de 2002
Tradução: Angélica Albuquerque


Um punk de cabelos compridos, com o suor escorrendo visivelmente pelo seu queixo, sua jaqueta branca também molhada de suor e cerveja, acabou de cair ao meu lado, claramente sem fôlego. Três jovens de pé, precariamente, no alto-falante à minha esquerda, estavam gritando loucamente, aparentemente por algum reconhecimento da vocalista de uma beleza impressionante e indescritível, que estava em pé no palco.
Fica claro que os três indivíduos que formam o Distillers têm uma conexão inegável com os seus fãs e com sua marca registrada da atitude punk, com todos os tipos de frustrações que, como é ilustrado na música “Sick Of It All”, eles souberam lidar por conta da ajuda do punk rock. E de pé entre os fãs presentes no Joseph’s Well, em Leeds, parece que há um par de centenas de pessoas que entendem exatamente de onde eles estão vindo.

Apesar de possuir uma mística calada no palco, em seu camarim depois do show a vocalista e guitarrista Brody Armstrong está mostrando seu lado alegre, seu lado zombador. “Você nunca ouviu falar dos Goodies? Ela fala, pausadamente, evidentemente esgotada. “Oh meu Deus! Eu cresci com eles quando eu era uma garotinha. Eles antes faziam Sootie, então depois The Goodies - é Inglês, são três rapazes.”

Eu fiquei muito envergonhado. Mas depois eu desencanei, porque ao conversar com a Brody e com o baterista Andy, parecia que eu os conhecia há mais tempo do que apenas meia hora. Entusiasticamente conversando e rindo comigo sobre as ocorrências cotidianas, como sonhos estranhos e programas de TV, eu comecei a me sentir como um de seus bons amigos. O que deve ser diferente da opinião que alguns fãs têm da banda em palco. Sendo antes rotulada como “imponente, rainha do gelo impermeável”, como Brody Armstrong acha que se difere da Brody do Distillers?

Eu sou legal, eu não sou uma rainha do gelo, sabe.” (Risos)

Eu sei, mas isso é apenas a percepção do que você é no palco.

Eu acho que isso é meio de se esperar de qualquer pessoa, sabe. Eu acho que eles, provavelmente, são o oposto, na verdade, quando você vê alguém no palco ou expressando algo que, provavelmente, eles não podem na vida cotidiana.

Você está consciente sobre como você é vista pelo público?

Eu não sei como eu sou vista... É assim? Rainha do gelo? Eu na verdade nunca pensei nisso.

No entanto, Brody é considerada um ícone para muitos jovens punks, uma vez que ao comprarem os seus discos, eles podem ter um contato bem próximo.
Liricamente, Brody insiste que a mensagem por trás do Distillers não é bem pré-meditada. “São mais sentimentos, sabe, e cantar sobre o que está acontecendo, não só para mim - para outras pessoas. Eu acho que isso é honesto e se as pessoas se identificam com isso, é ótimo.

Há alguma lição que você tenha aprendido que tenha despertado a vontade de você transformar em letra?

As lições que eu aprendi foram falar com o coração (e isso é, basicamente, o meu aprendizado principal) e manter os pés no chão.

Você teve uma infância difícil e muitas de suas letras são referentes à isso. Durante todo o tempo em que estava crescendo, havia lá alguém para quem você tenha olhado e encontrado inspiração?

Andy: “Os Goodies.” (Risos)

Brody: “Eu não acredito que você nunca viu 'The Goodies', cara. Isso fez a minha cabeça. Você é inglês e nunca viu 'The Goodies'! Isso é bizarro. É como a versão infantil de 'The Young Ones', mas eles são todos tipo hippies. Embora seja hilariante. Ok, alguém para quem eu tenha olhado... Hmm... Não tenho certeza.

E como um todo? Eu sei que o primeiro disco do Hole te influenciou bastante.

Brody: “É, ‘Pretty On The Inside’. Foi uma enorme influência para mim. Esse é um álbum do caralho, eu não acho que as pessoas perceberam isso, porque 'Live Through This' foi tão comercial. Esse foi o disco que eles divulgaram mais. Mas ‘Pretty On The Inside’ era tão sujo e isso é genial. Esse é de verdade um disco do caralho e é muito, muito bom. Esse disco me ajudou a passar por muita coisa. O que mais eu ouvia? Eu ouvia muito Discharge.

Andy: “Para mim, musicalmente prudente, Black Flag. Quero dizer, é um clichê, tipo, todo mundo diz Black Flag, mas essa foi a primeira banda que eu ouvi.

A história do Distillers, ou mais ao ponto de sua line-up, foi bem agitada. Brody teve a idéia de criar o Distillers após ela ter saído da banda Sourpuss e migrado da Austrália para os Estados Unidos, após ter se apaixonado por Tim Armstrong do Rancid. Um line-up aparentemente sólido foi formado em Los Angeles, que incluía a baixista e funcionária da Epitaph, Kim Chi, que urinou em público sem dar a mínima para o mundo! Ela foi substituída pelo atual baixista, Ryan e o baterista Matt, do Channel 3, foi substituído por Andy Outbreak, do Nerve Agents. Ele saiu porque, usando as palavras de Andy, não era “coeso”.

Brody: “Ha ha. Bom garoto! (Risos). Era disfuncional. Nós não conversávamos uns com os outros, você sabe o que quero dizer,” Brody explica, referindo-se à formação original. “E aí a gente achou a Rose e foi ainda mais disfuncional. Que Deus abençoe a sua alma. Tipo, chegou ao ponto de irmos para um show e não falarmos sequer uma palavra com o outro. Nós subíamos no palco, tocávamos e então saíamos.

Casper, a segunda guitarrista da banda, demitiu-se amigavelmente no final da última turnê do Distillers no Reino Unido, porque ela não gostava de ficar longe do seu namorado enquanto estava em turnê. Brody insiste que, apesar de agora lidar com todas as partes de guitarra ao vivo, ela está muito confortável com a formação atual. “Esses são os meus melhores amigos, sabe.

As pessoas dizem que, em algum momento de sua vida, têm um momento de clareza absoluta que vem de uma experiência de mudança de vida. Alguma vez você já experimentou isso e se já, que lições você aprendeu?

Brody: “Eu acho que foram duas. Provavelmente, quando eu tive uma última overdose e minha mãe estava sentada perto de mim na minha cama no hospital, chorando. Aquilo realmente me fez acordar, sabe. Essa foi uma delas e a outra foi quando eu conheci o meu marido. As lições que eu aprendi são que você não pode mudar o passado, mas você pode seguir a partir dele. Você não pode ficar parado no passado e você não pode sempre pensar no futuro.”

Quando você conheceu Tim Armstrong, você imediatamente viu um reflexo de si mesma na medida em que as experiências passadas ocorreram? Houve um entendimento de onde vocês dois estavam vindo?

Em relação a me sentir bem, sim. Eu realmente não penso no que dizer. Isso foi como um 'whoa'!

Como vocês conseguem conciliar o seu relacionamento, as duas bandas e compromissos de turnê? Não é muito difícil?

Bem, sim. Quero dizer, qualquer relacionamento é difícil, mas nós temos um respeito mútuo, pois fazemos a mesma coisa, então isso torna provavelmente as coisas muito mais fáceis para nós do que para outras pessoas. Eu conheço um monte de gente que estava se relacionando com músicos que estavam sempre fora e essa gente não fazia a mesma coisa que eles, então tiveram um tempo difícil lidando com isso, sabe. Então sim. Nós descobrimos como fazer isso, então é bom. Eu sinto sua falta a todo instante, é bom.

Felizmente para ela, O Distillers teve a sorte de fazer turnê com o projeto paralelo de Tim Armstrong, o Transplants, logo após sua turnê britânica. Também contando com o baixista do Rancid, Matt Freeman, com o guitarrista Craig do Lars Frederiksen and the Bastards e The Forgotten, o Transplants também possui um certo Travis do Blink-182. Após ter falado publicamente sobre as limitações que o Blink-182 tem para suas habilidades na bateria, The Transplants é uma banda onde ele pode finalmente mostrar suas outras técnicas. O Distillers tem uma boa amizade com os garotos do Blink, já que o Blink-182, felizmente, agita a bandeira do punk, apesar de não praticar qualquer um dos seus ideais, mas o Distillers é tão apaixonadamente envolvido na cena independente do punk rock, que será que eles acham que deve haver quaisquer regras associadas com punk?

Andy: “Não, porque as regras são os motivos dele se tornar uma merda. As regras são o que fazem ficar ruim, estúpido, repetitivo e clichê.

Bem, você encontra pessoas dizendo “faça o que quiser fazer e não ligue para o que os outros pensarem”, mas essas mesmas pessoas sempre voltam atrás e dizem “mas você não pode dizer isso, ou fazer isso, e isso, e aquilo.

Andy: “Bem, eu acredito que haja regras gerais na vida, como ser respeitoso e cortês com as pessoas, independentemente de você ser, entre aspas, 'punk'. Mas quanto as regras do punk, como você ter que ter calças punks ou ter um maldito moicano para ser punk ou ter alfinetes no nariz para ser punk... Bem, isso é ridículo pra caralho. Eu não acho que isso importa. Um exemplo é o Greg - ok, eu continuo falando de Black Flag - mas Greg Ginn, uma das suas bandas favoritas era o Greateful Dead e isso não é punk. Mas todo jovem punk lá fora tem um patch do Black Flag. Crass - os membros do Crass estavam no Chumbawamba. Isso não é totalmente punk, mas acho que todos os jovens ficam um pouco presos à moda.

Isso também não é um par de coisas?

Andy: “É. Eu esqueci onde foi, onde eu li ou quem disse isso mesmo, mas foi na letra de uma banda de Seattle que tocou conosco. Eu esqueço a música e o nome da banda, mas na verdade a mensagem que ela passou foi que um cara se cansou de ser motivo de piadas na escola e entrou no punk rock para ser aceito e agora ele se cansou de ser piada para os punks nos shows porque ele não se encaixava nos padrões, e é engraçado porque é a mesma coisa, sabe.

Brody: “Eu acho que o punk rock está se tornando uma paródia dele mesmo. Está se tornando um clichê, redundante, chato e estúpido, como muitos gêneros musicais são redundantes e repetitivos.

Mas certamente a atitude do punk nunca irá morrer.

Brody: “Sim, e atitude traduzida em música e é isso o que importa, é disso o que se trata e as pessoas não percebem isso mais. Está se tornando estúpido.

Andy: “Isso tudo começou da arte e de livre-pensadores, sabe? E as pessoas que procuram fazer algo diferente, fresco e novo. Isso tudo é culpa do Malcolm McClaren. (Risos) Só porque ele está tentando vender suas roupas de sex shop, ele é o culpado! Você já leu o livro que ele escreveu, 'Mate-me Por Favor'? Ele revela coisas que aconteceram em Nova Iorque nos anos setenta e um monte delas gira em torno de Patti Smith, Ramones, Velvet Underground e coisas do tipo, como o seu dia-a-dia, as merdas que aconteceram. Mas há um longo capítulo no livro sobre Malcolm McClaren e sobre o seu negócio... Tipo, ele estava apenas tentando achar uma maneira diferente de vender roupas. Ele abriu uma sex shop e estava tentando fazer dinheiro e ele pensou que ao empresariar uma banda, isso daria a ele uma boa vendagem de roupas. E isso funcionou. Você sabe o quanto ele ficou famoso e ele arrumou as pessoas perfeitas para fazerem isso. Ele tentou empreriar o New York Dolls e eles não quiserem. Eu suponho que ele tenha então tentado empresariar o Johnny Thunders nos Estados Unidos e estava fazendo isso fora das páginas amarelas; ele na verdade não sabia o que estava fazendo, ele tinha a idéia e então o Sex Pistols começou. Foi apenas sorte de ter encontrado John Lydon.

Ok, daqui a vinte anos, como vocês gostariam de ser lembrados dos seus tempos com o Distillers?

Brody: “Eu gostaria de deixar um legado de música honesta e isso é o que é, sabe? Eu apenas quero que ela traduza isso e que eu dei cem por cento de mim e que não subi nas costas de ninguém para chegar aonde eu espero chegar e que eu não fudi ninguém por isso, sabe o que quero dizer?

Para finalizar, qual é a melhor desde pão fatiado?

Andy: “Eu.”

Brody: “Isso é um termo tão australiano!

Andy: “É, eu cresci lá. Minha avó costumava dizer isso. 'O que eu sou, fígado picado?' Conhece essa? Quando você estava sendo safadinho você dizia 'o que eu sou, fígado picado?'

Não posso dizer que já ouvi isso.

Brody: “E tetas nas torradas [Nota: Sanduíche de ovos]? (Risos) Já ouviu essa?

Andy: “E merda no pão? Sabe o que isso é? É o que eles usaram para alimentar os caras do exército na guerra. Eram uns pedaços de bife com um pouco de molho em um pão.

Brody: “Natal em uma vareta?

Andy: “Mas que diabo é isso?

Brody: “É como se fosse aquela coisa de pão fatiado.”

Você já disse que alguém era como sexo em uma vitrine?

Brody: “Sexo de manhã.

Andy: “Merda no sexo.” (Risos)

Er... Vocês ainda não responderam a minha pergunta.

Brody: “Ok, essa é difícil, você primeiro.

Andy: “Bem... Merda no pão? Eu lhes direi o que deve ser a melhor coisa desde pão fatiado. Se cigarros fossem saudáveis para você, se você pudesse comer qualquer coisa que pudesse durante todo tempo e se sentir ótimo e não um bosta e não engordar. E beber todo refrigerante que puder. Seria genial, se isso viesse em um box. Pense no tanto de dinheiro que os restaurantes iriam ganhar. Alguém deveria inventar isso de verdade, cara. Seriam caras como Malcon McClaren, tentando arrumar uma banda para vender cachorros-quentes.”

Mano, eu sei com o que você sonhou na noite passada: cigarros e comida!

Brody: “Ele sonhou que era um skatista profissional, ontem à noite.

Andy: ‘Pois é, cara, eu era um skatista profissional numa estrada, eu estava fazendo manobras sobre carros e foi legal pra caralho. Eu sonhei, uma vez, que eu estava fazendo sexo com uma garota e a vagina dela estava se abrindo e eu podia ver através da cavidade do seu corpo e eu pude ver através de suas entranhas. E daí ela morreu. Isso foi o pior. Tony (o rodie) sonha sempre que ele está matando pessoas.

Isso é um pouco assustador. Eu uma vez sonhei que estava sonhando. Foi um tanto confuso.

Andy: “Meu amigo Martin teve um sonho onde ele estava pescando em um riacho, mas o riacho era feito de concreto e ele estava pescando com um picles. Tony, irmão dele, nadou nesse riacho e então virou uma morsa.

Brody: “Parece que ele tinha emoções bloqueadas.

Eu poderia continuar transcrevendo nossa conversa por mais quinze minutos, mas isso desviaria o foco da entrevista ser sobre o Distillers e não sobre Malcon McClaren ou sonhos absurdos que amigos de roadies tiveram.
Essencialmente, embora, o Distillers é uma banda que tomou todas as suas influências, integrou ao seu espírito punk rock e afiou suas habilidades musicais para resultar na encarnação atual, uma banda que é destilada para a infecção punk. (ouch!)