Friday, August 12, 2011

Brody Dalle Fala Sobre o Divórcio

Para: Revista The Face
Data: 2003
Tradução: Marianna Souza de Oliveira
Correção/Edição: Angélica Albuquerque


Matéria completa de Brody Dalle sobre divórcio com Tim Armstrong.

     A cena punk de Los Angeles é como uma pequena vila e, no último verão, Brody Dalle tornou-se condenada nesse lugar pelo fim do seu casamento de seis anos com Tim Armstrong, o presidente do punk da América, da banda multi-milionária-ska-punk Rancid. No fim deste ano, Brody começou um relacionamento com Josh Homme, do Queens of The Stone Age, conhecido como Ginger Elvis e o homem mais legal do rock. É óbvio: ela foi a mulher oportunista que usou o homem, o pior crime das leis da vila, criando um vazio e cuspindo no coração do punk rock global.
  
     De um lado, Tim Armstrong, Rancid, Kelly Osbourne e amigos, de outro, Brody Dalle, The Distillers, Queens of the Stone Age, Dave Grohl e Shirley Manson. Durante tudo, Brody ficou silenciosa. Tim, no entanto, disse alto “Minha pequena Brody, minha melhor amiga”, a mulher que o apunhalou e o deixou “por outro homem.”
     Hoje, Brody sente que já teve o bastante de mentiras e especulações sobre o fim do Distillers e tudo isso. “Eu nunca deixei Tim por Josh”, ela disse, e toma o cappuccino. “É tudo uma merda. Isso não é verdade. Eu nunca deixei Tim por ninguém. Eu deixei Tim por mim. Josh não tem nada o que fazer com isso. Eu estava terminando o meu casamento nos últimos três anos.”

     Brody conheceu Tim na festa de ano novo de 1995, um dia antes do seu 17° aniversário. Com trinta e um anos, Tim foi num show do Sourpuss e falou com Brody e “Isso foi 'boooom'”, ela diz, “quando você realmente pode olhar profundamente em uma pessoa”. Rancid não era famoso na Austrália, ela não sabia nada sobre ele, somente “um cantor”. Ele foi pra casa, ligou pra ela por meses depois e a pagou pra viajar com ele no Lollapalooza, por duas semanas.
     De volta à Austrália, desta vez Tim continuou em contato, ligando pra Brody em setembro de 1996 dizendo que ele iria viajar nesse dia. Ele não voltou até janeiro de 1997.

     Por todos esses quatro meses, Brody perdeu a cabeça. “Eu estava ficando louca!” ela diz, como você liga e diz que você vai fazer um relacionamento com alguém e aí desaparece da face da Terra? Uma garota de 17 anos? Isso foi meu pior período de drogas, pra ser honesta com você. Ele quebrou meu coração em duas partes. Minha mãe odiou ele. Eu acho que ele devia ter sumido e desaparecido. Isso estava me matando.” Quando Tim apareceu, ele pediu que ela fosse para os EUA. Ela nunca sairia da Austrália. Ela disse sim, se mudando em abril de 1997, “com um homem que eu iria amar totalmente em três anos. Eu estava intensamente, intensamente apaixonada.”
    
     Brody se mudou pra Los Angeles. Sete meses depois, eles se casaram nas montanhas de Las Vegas, um casamento Wicca - Só Brody, Tim e uma bruxa. “Muitos me criticavam. Eu não conhecia ninguém e ele era um grande rockstar e as mulheres ficavam em cima dele. Muitas pessoas não gostavam de mim.” Eles eram de personalidades opostas. “Ele é 14 anos mais velho que eu”, ela diz.
     “Mas emocionalmente é uma criança. Ele teve um horrível relacionamento com os pais. Não vou dizer o que aconteceu. Mas é um homem muito sensitivo, muito traumatizado. E aconteceu dele gostar de ter poder. De ter uma jovem mulher em seu pedestal 2477. E eu não sabia. Pra mim, o mundo dele era Deus.”

     Brody e Tim brigaram a cada dia. Brody gostava da noite – “nós tivemos muitas brigas por causa disso.” Como se ele a suportasse. Ele era um milionário rockstar e homem de negócios e ela era uma musicista sem uma banda. “Ele sentou em casa e escreveu o dia todo. Cara de sorte.” Eventualmente, ela começou sua primeira carreira nos Distillers, cantando (na gravadora de Tim!) para a “família de negócios” - sua gravadora, Hellcat. Eles gravaram o primeiro álbum em 1998, o começo de um financiamento independente e ilusão de liberdade.

     Se tem uma coisa que Brody não suporta são regras. Regras era o que os mantinham juntos. Ele não bebia, ou usava drogas e, consequentemente, Brody não poderia, por anos, nem sozinha com os amigos. Na primeira turnê dos Distillers, no Canadá, ela quebrou as regras e bebeu por dois dias seguidos. “Mas eu estava desesperada! Eu estava, estava enlouquecendo! Os amigos de Tim contaram pra ele, e ele me forçou a entrar num avião e voltar para casa!”, ela diz, “Pra tratar de mim. Pra gritar comigo. Eu tinha 20 anos de idade. Pra gravar minha história - em que ele era o autor -, pra me chamar e dizer que eu nunca iria gravar um CD com a banda, de novo. Eu estava fodida. Como uma criança sendo reprimida, constantemente, por estar com raiva. Ele devia me tratar como um divórcio. Eu fui constantemente humilhada em público.”

     “Eu nunca fui fisicamente abusada”, ela diz, “Mas ele era muito, muito, muito controlador. Porque ele não conseguia controlar a culpa que o consumia todo dia. Então, aonde ir? Bem aqui. Na minha cabeça. Eu não tinha vida. A banda era meu único escapamento. Isso soa horrível. Mas é como eu vim parar aqui. Eu ia pra uma turnê e eu via o mundo. Ele não gostava disso. Ele fazia questão que quando eu viajasse, eu estivesse com o pessoal dele. Então, eu estaria sendo constantemente vigiada. Dizem que ele leva seus negócios de uma forma mafiosa. E eu não gostaria de estar casada com alguém assim. Mas eu estava. Eu não casei só com Tim, eu casei com todos os outros.”

     Tim era um tipo diferente quando estava com os amigos em seu próprio círculo, onde Brody não tinha um controle ou autoridade. A única hora em que Brody era ouvida era à noite, quando ela falava sobre o casamento de sua mãe com seu padastro, que se casaram quatro anos antes na Tasmânia. Antes de seus traumas adolescentes, ela adorava seus pais, pensava que eles eram heróis.
     Quando olhou para o casamento, sua voz sumiu. “Tim ficou no hotel o tempo todo,” ela diz. “Não saia. Nunca jantava com a minha família. Sempre cansado. Eles não sabiam com quem eu estava casada, por seis anos. Meus pais pensaram que uma semana com o cara, fosse meu casamento inteiro! Sabe?”

     Brody sabe que há dois lados da historia e diz: “Eu não era um anjinho, eu iria ser, mas eu faço qualquer coisa que eu quero!”. Tim também tinha um certo magnetismo: ele sempre foi generoso, mas tinha um preço. Pelos últimos três anos de casamento, eles tiveram vai-e-voltas estáveis, mas no último ano, ela teve que tomar antidepressivos até meados de 2002.

     ”Eu me senti morta”, ela diz, “Tim foi um miserável. Nós não fazíamos amor nunca. Eu estava tipo, ‘o que você quer de mim? - ficar em casa e ser uma mulher do lar?’ Eu queria tocar musica, amar você, sou sua mulher. Mas eu devo ir e fazer música.”

     Em 2003, Brody esteve em sua casa na Austrália com seus pais (onde ela escreveu boa parte do Coral Fang). Ela sabia que devia se divorciar: “Sem nenhuma dúvida eu sabia”. Depois de dias de debate em família, ela telefonou Tim. “Eu contei pra ele que eu não poderia mais, estava acabado. Foi a mais difícil coisa que eu fiz na vida. E foi o melhor sentimento de libertação que eu eu já senti.”

     A primeira vez que Brody viu Josh foi quando ela tinha 17 anos, na turnê Lollapalooza, com Tim. Ele estava lá. “Eu vi Josh sentado num banco lendo um livro”, ela se lembra, “eu amei a banda dele. Então, eu fui lá e nós conversamos por duas horas.

     Brody voltou para LA, sozinha, ficou num hotel e pensou no que iria fazer. “Eu estava quase escondida, mas eu pensei que Tim iria vir e me achar. Ou alguém teria me seguido. EU não esperava que ele fizesse nada drástico. Mas eu estava com medo da minha vida. Tiveram ameaças de morte ao Josh. Não diretamente. Mas Josh riu. ‘Sério? Venha e faça isso’. O divórcio não foi fácil, Tim tinha um advogado, além de eu ter que sair da Hellcat. Arrumei um advogado também e começamos o divórcio.”

     Eu mudei a minha vida toda num dia”, ela diz, “E ele não acreditou nisso porque era eu.” Isso foi chato, Brody e Josh apareceram juntos, se beijando, na Rolling Stone. Isso não foi muito bom. “Eu concordo”, diz Brody, “Por um segundo nos beijamos, três fotos, e estava feito. Eu sabia que isso não iria me ajudar no caso.”

     Tim correu em seu processo. “Ele disse para as pessoas que eu era uma viciada”, diz Brody, “quando eu peguei o divórcio, o povo achou que eu estava louca. Eu perdi todo mundo. Todo mundo. Os únicos que ficaram do meu lado foram meus homens, minha banda.”

     Duas semanas depois, em Londres, todos da banda estavam nervosos, ansiosos. Eram melhores amigos. Quando o divórcio saiu em público, eles ficaram individuais, sabendo controlar a situação.

     “Isso é ridículo”, diz Andy, “E isso me decepcionou muito. Não é o Tim que não pediu pra sermos amigos dela, e sim os seus amigos. E é um reflexo dele. Todo mundo culpou Brody. Todo mundo pensou que ela fosse uma vagabunda ou uma viciada e se divorciou de Tim para status sociais.” “Ela só fez uma decisão que a deixou feliz,” diz Ryan, “e todo mundo a odeia por isso.”

     Tim Armstrong é membro de uma gang punk chamada US THUGS, Brody os chama de “Uns à toas, basicamente,” “aquilo é uma brincadeira, eles não existem, mas eles deixam as pessoas com medo.”

     A máfia punk, diz Andy, usa a gang “como um meio de pôr medo nas pessoas; se alguém falar merda de suas bandas, eles batem. Totalmente retardados.” Tim, diz Andy, é “totalmente inseguro”. “Se ele estivesse aqui, essa sessão de fotos não poderia acontecer: fotos com a cabeça deles na perna de Brody, ou encostando-se a ela. Eles ficariam com medo do que pudesse acontecer. Se Josh estivesse (quem eles amam), seria totalmente legal,” eles dizem.

     “Uma vez”, diz Brody, “Tim se encontrou com um amigo em comum, e disse a ele: ‘Você ainda fala com a Brody? Dê à ela um recado. Diga aquela filha da puta que ela é uma desgraçada e que eu a odeio!’ Chorei por horas”.

     Tudo o que Brody deseja fazer agora, é gravar discos e continuar com sua banda e seu relacionamento com Josh Homme.