Título Original: "The Distillers – Brody Armstrong - Interview"
Por: Greg Smith
Para: Thrasher Magazine
Data: Novembro de 2002
Tradução: Angélica Albuquerque
Tudo começou no calabouço, que eu costumava chamar de meu escritório. Todo dia eu tinha que ir a um cubículo onde as luzes tinham que ser apagadas e a porta fechada, enquanto a sálvia queimava no ar e o som alto da música do patrão soprava pelo quarto. Uma das bandas que eu lembro dessa época, era The Distillers. Eles eram uma das poucas bandas por quem eu podia ficar embalado e passar a gostar. As coisas mudaram para melhor; eu agora tenho luz, não há sálvia queimando, não existe mais o som horrível ou “La Vida Loca” do Ricky Martin, e eu posso pensar em linha reta de novo, pelo menos para trazer para vocês, punk rockers, essa entrevista com Brodie Armstrong. Desfrute.
De onde surgiu o nome da banda?
Eu vi uma destilaria em Melbourne; eu sou da Austrália. Eu vivi em Geelong quando eu tinha dezesseis anos e é uma pequena cidade de praia industrial. Fica à uma hora de Melbourne, então você tinha que pegar o trem e um dia eu passei por essa destilaria. Ela estava indo às ruínas e parecia que estava sendo perseguida; encoberta por algumas árvores ciprestes que estavam quase alcançando o nome da fábrica (The Distillers) no topo. Eu achei que era um ótimo nome para uma banda, então eu sempre o guardei.
Que música você escutou enquanto crescia?
Tudo: Rolling Stones, Bruce Springsteen, Cyndi Lauper e Tom Petty. Minha primeira banda punk foi Discharge e na Austrália o que a gente tinha mais era o punk rock inglês, como GBH, Discharge e The Clash. Bandas punks americanas eram Ramones, Circle Jerks e Dead Kennedys. Tinham tantas, eu não posso pensar em todas elas e então... aqui estou eu.
Qual foi a sua primeira tattoo?
Uma estrela no meu dedão.
Qual é a sua favorita?
A aranha redback, que é uma das mais venenosas aranhas na Austrália ou no mundo, na verdade. Ao picar você, ela te mata; provavelmente ela é similar a viúva-negra. Eu tenho uma dessas no meu tornozelo. Me faz lembrar de casa.
Você a fez na Austrália?
Sim e a tatuagem australiana não era muito boa.
Tipo do gueto?
Sim, era do jeito do gueto. Todas as minhas tatuagens australianas perderam a cor.
Você já refez alguma delas nos Estados Unidos?
Não, eu meio que gosto delas. Elas são cativantes.
O que aconteceu com a Casper? Por que ela deixou a banda?
Eu não acho que ela goste de disciplina. Tocar é algo que você quer fazer, você ama isso. Você sai em turnê, você tem que estar em certos lugares certas vezes... Ela apenas não quis fazer mais isso, o que é uma pena porque ela era realmente talentosa. Eu espero que ela continue fazendo algo.
Você está gostando da banda com três integrantes?
Eu comecei essa banda como um power trio, mas eu queria conseguir uma quarta pessoa para me ajudar porque é muito difícil. Não estou reclamando, mas isso tira um pouco da pressão. Eu consegui essa quarta pessoa e não deu certo, então isso está me forçando a ser uma guitarrista melhor no palco. Isso soa tão idiota, mas eu tenho que tipo, botar pra fuder no palco, me movimentar e dar um show. É assustador, mas eu superei isso.
Então antes você podia focar mais nos vocais e agora todas as guitarras caíram nos seus ombros também?
Nunca foi assim; Rose não estava à frente porque ela na verdade não tocava a sua guitarra.
É verdade que em alguns momentos ela nem sequer a plugava?
Soa como Sex Pistols, mas sim, ela parecia ótima, tinha presença de palco - é como a Britney Spears dançando e cantando, é uma coisa ou outra. Eles incrementam alguns vocais e então ela dança e finge cantar. Rose estava plugada, mas foi tanto barulho que acabou fundindo um pouco o som, então os técnicos de som tiveram que me dar mais volume e diminuí-la.
O que te inspirou escrever “City of Angels”?
Apenas o contraste daqui, a partir de uma perspectiva externa. O centro de Los Angeles é como a porra dos mortos-vivos. É totalmente horrível como as pessoas vivem - elas são totalmente dependentes de seu vício e não conseguem sair. Depois de dez minutos de distância, as pessoas estão totalmente alheias ao que está acontecendo e [as outras] nunca sequer foram para lá, porque não é como o centro de Los Angeles, como Hollywood é. Então é meio repugnante, é vulgar. A única vez que eu realmente aprecio LA é quando o sol está indo embora porque ele não se parece com Los Angeles, quando o sol está se pondo.
Você gosta de fazer turnê?
Eu amo fazer turnê, mas ela pode ser tributada, mas é por essa razão que eu escolho fazê-la. Eu fui expulsa da escola quando eu tinha quinze anos. Eu meio que não tenho escolha. Eu não quero voltar para a escola porque eu a odeio. Eu fui mandada para duas escolas católicas só para meninas e foi horrível. Eu nem sequer sou batizada. Elas me odiavam.
Como os seus fãs deverão reagir ao ver você fazendo shows maiores com bandas como Garbage e No Doubt? Como devem reagir ao contrário de como irão reagir?
Bem, eu nunca gostei disso quando era piralha. Quando as bandas que eu realmente gostava ficaram grandes - elas tornaram-se suas, sabe? Quando elas tiveram atenção e, de fato, começaram a explodir, no começo eu fiquei puta, mas depois de um tempo à maneira como eu ia ficando mais velha, eu percebi que você tinha que fazer alguma coisa para sobreviver e fazer dinheiro para ter o que comer. Eu abstraí, então eu não dou a mínima para o que eles pensam. Nós temos uma base de fãs que sempre irá nos apoiar e passar por essas coisas e há outros que, de repente, não gostam mais de nós e você se pergunta quando foi que eles realmente gostaram.
Você realmente gosta da música? É isso que se trata de você ou é sobre como manter-se no underground e ser punk e toda essa besteira?
Eu não ligo. Há jovens lá fora que ligam para nós e vêm aos nossos shows a todo tempo e nós os amamos por isso. Os outros, não há nada que eu possa fazer em relação a eles; isso não está em minhas mãos. Eu tenho que viver, sabe.
Você tem alguma história maluca para contar, como uma carta de amor? Dos jovens? Ou até mesmo dos crescidos?
Ah, até mesmo dos crescidos... Eu creio que tenhamos alguns perseguidores. Uma vez um garoto fez uma boneca pra mim e isso foi fofo, ele colocou o seu nome e o seu número de telefone nela. Então eu falei pro Craig [nota: do Bastards, The Forgotten e The Transplants] “Craig, vamos ligar para ele e assustá-lo.” Então ligamos para ele e deixamos uma mensagem e daí o meu telefone tocou cinco minutos depois e era esse garoto. Eu falei “porra, que estúpido! Eu esqueci do identificador de chamadas.” Nós temos fãs que saem de Detroit; é louco.
Conte-me um pouco sobre o Tim. Como a relação começou?
O Rancid tocou num festival em Sydney, em 1995 com o Bestie Boys, Sonic Youth e algumas outras. Minha ex banda tocou naquele show e foi onde eu o conheci. Foi no meu aniversário de dezessete anos; meu aniversário é no Ano Novo. Eu tinha dezessete anos e disse a ele que tinha dezenove - ele é tão tesudo e tão lindo e eu estava totalmente apaixonada por ele. Agora que o conheço e que ele é meu marido, ele é tão cortês. Ele é o homem mais altruísta que eu conheço. Ele faz tudo para todos com puro amor, não como um favor. É isso o que ele faz e ele é o melhor compositor que eu conheço, definitivamente, da sua geração.
Ser comparada ao Hole te deixa irritada ou isso é um elogio?
Isso não me aborrece porque ela era ótima e eu realmente gostava daquele primeiro disco e dos que surgiram depois. Eu não sou como ela, eu meio que sou anti o que ela é. Eu acredito que ela não iria conseguir ficar com uma banda de três pessoas e tocar guitarra como eu e assumir o dever. Eu tenho outras [inspirações] - há Wendy O; que é demais para mim e Monkey Suit; que é uma das coisas mais pesadas que eu já ouvi e Debbie Harry. Há um monte de garotas por aí que têm me influenciado, juntamente com os rapazes. Courtney é boa ou qualquer coisa que seja...
Então você a colocaria em sua lista de influências?
Eu colocaria aquele disco na minha lista de influências, mas não necessariamente ela e sua personalidade. Entretanto, eu gostei do fato dela ter coragem e não dar a mínima. Mas isso meio que girou e tornou-se essa outra coisa e ela é um tanto tagarela agora; é meio nojento. Mas eu não a conheço, entende, ela passou por muita coisa.
Fang ou Guns 'N Roses?
Fang.
Alfinetes de segurança ou grampos?
Humm... Se eu fosse grampear algo, iria doer pra caralho. É a minha única opção? Eu vou dizer grampos.
Rosa ou preto?
Preto.
Caras: Americanos ou Australianos?
Americanos. Os australianos são uns porcos, com exceção do meu pai.
Victoria Bitter ou Budweiser?
Victoria Bitter. Não, quer saber? Nenhuma. Você já provou Coopers? Você tem que experimentar Coopers, você consegue em alguns lugares. Ninguém bebe Fosters, tem gosto de mijo. É embaraçoso que isso seja anunciado e comercializado em massa como é.
Crocodile Hunter Steve Irwin ou Crocodile Dundee Paul Hogan?
Ah, não! Eu vou com o negócio certo. Eu gostava da fantasia quando eu era criança, provavelmente eu queria casar com Paul Hogan, porém não mais agora. Homens australianos não são tão ruins. Alguns são totalmente cuzões, mas eles estão ali como condenados. Eles não conhecem nada melhor. Eu costumava frequentar a pista de skate Amber e havia um monte de skatistas profissionais lá na época.
Tas Pappas e Jason Ellis?
Isso soa bastante familiar. A Tas tinha cabelo longo?
Sim, ela e o seu irmão Ben.
É! Eles andavam de skate lá a todo tempo em Melbourne.
O que o futuro aguarda para o Distillers?
Só continuar quebrando paredes, continuar fazendo o que estamos fazendo e ir a todo canto, o mais longe que conseguirmos com isso. Explorar tudo até chegarmos aonde desejamos. É tipo, “faça ou morra” - nós temos essa chance de fazer algo neste exato momento ou nós podemos nos sentar no mesmo lugar e apodrecer.