Mexa-se, Courtney Love - O mundo do rock tem uma nova mulher que ele ama odiar. Brody Dalle, do Distillers, conversa com Caroline Sullivan
Título Original: "Punk's new leading lady: Brody Dalle and the Distillers"
Por: Caroline Sullivan
Para: The Guardian
Data: 12 de Março de 2004
Tradução: Angélica Albuquerque
É verdade aquilo que eles dizem sobre estrelas do mundo pop serem fisicamente pequenas, o que torna os 1,72m de altura de Brody Dalle um soco metafórico. Ela anda com saltos que adicionam à sua altura mais 10 cm e com suas tatuagens, sua palidez tuberculosa e com seus cabelos tingidos de preto, faz todo o pacote se parecer com algo que um designer de moda inventaria para uma coleção chamada Rock Chick.
Fumando atrás da escada perto do backstage da Brixton Academy em Londres, eu informo que ela é alta para uma pop star. Seu tom é vivo. “É porque eu sou uma rock star.’
Então ela é. Dalle é “a nova Courtney Love” (de acordo com as revistas musicais americanas) - ou apenas a vocalista de um quarteto punk-metal de Los Angeles chamado de Distillers (de acordo com o Distillers). De todo modo, os últimos seis meses têm visto a sua ascensão do underground do punk de Los Angeles para um status renomado ao lado das adolescentes americanas problemáticas.
Seu rugido áspero escutado no efeito assustador do álbum de sucesso “Coral Fang”, lançado no último outono, brincou com o lado escuro para justificar de alguma forma a comparação com a Love, que Brody sem entusiasmo rejeita.
É sensato sugerir que se Love não tivesse feito o possível para estrelas femininas serem imperfeitas e caóticas, Dalle não estaria aqui agora. Mas ela tem o seu próprio distintivo de identificação: Ela é a primeira mulher a tomar frente na cena punk milenar da América.
“Eu estou bem em relação a ser vista como assustadora. As pessoas estão menos propensas a andar sobre você,” ela diz docemente. Ela inspirou hordas de adolescentes “wanna-Brodes”, um grupo de quem, lá embaixo, no beco, grita o seu nome a cada minuto.
Dalle nasceu e cresceu em Melbourne, onde por volta dos 16 anos, tinha sido expulsa de duas escolas católicas. Ela foi logo se auto-mutilando e se automedicando com heroína. “Eu nunca fui uma drogada, eu nunca vivia em função de disso e vendia o carro da minha mãe para um cigano. Eu só experimentei, como todo mundo,” ela insiste, como se heroína fosse uma fase normal de desenvolvimento.
Depois de um tempo em um abrigo para mulheres, ela formou uma banda chamada Sourpuss, através de quem ela conheceu Tim Armstrong da banda americana de ska-punk Rancid. Seguindo-o até a Califórnia, ela casou-se aos 18 anos. Ela formou o Distillers como uma saída para sua perturbação, estabelecendo-os rapidamente na cena predominantemente masculina de Los Angeles.
Após um casamento de seis anos, ela deixou Armstrong no ano passado e assumiu um relacionamento com Josh Homme do Queens of the Stone Age. Seus colegas surpreendentemente conservadores ficaram escandalizados e a notoriedade (bem como a turnê com o No Doubt) tornou o Distillers nacionalmente conhecido.
Uma doutrina típica de Dalle ilustra porque ela é uma pin-up para jovens de 15 anos que não iriam comprar um disco da Britney nem sob pena de morte: “Eu perguntei a uma freia na escola o que era boquete e ela disse que era 'Proibido!'. Eu tinha cerca de oito anos de idade. Mas você finalmente descobre um dia, você acha as pornografias do seu pai ou da sua mãe e num piscar de olhos você aprende o que é.” Ela então tem a sua risada mais deliciosa.
Na fila, há pessoas gritando: “Bro-deee!”. Ela ignora. Ei, você não está lisonjeada? Aquelas garotas querem ser você. “Não, elas querem ser a percepção que têm de mim. Elas me vêem como sendo perigosa e rock'n'roll. Eu adoro o lado sombrio da vida," ela admite. “Eu já aprofundei isso no álbum.”
“Coral Fang”, cuja capa manchada de sangue foi alterada quando as grandes lojas de discos dos Estados Unidos se recusaram a estocar o álbum, transborda de referências à morte, principalmente por enforcamento.
Do que se trata, por exemplo, “The Gallow Is God” e “Die on a Rope”?
“Bem, sangue representa a vida e a perda dele é a morte. O álbum é um retrato de um período de intensa transição.” Presumivelmente, ela está se referindo ao término do seu casamento, que forneceu o tema de muitas músicas. Ela acena: “Sim, tudo derramado no espaço de dois meses, os anos de ressentimento reprimido com respeito à minha situação.”
Inevitavelmente, os outros membros da banda - o guitarrista Tony Bevilacqua, o baterista Andy Granelli e o baixista Ryan Sinn, que têm tatuagens iguais a uma de Brody - foram empurrados para o fundo das sessões de fotos nesses dias. “Eu quero que a banda obtenha os seus direitos,” Dalle se preocupa. “Mas talvez eu esteja em contradição, dizendo que nós somos iguais.” Bem, sim - não foram os outros três que o site punk-pornô Suicide Girls convidou para posar nu no próximo mês. “Eu não fiz isso, mas ei, seja lá o que for que te tenta.”
Enquanto isso, Courtney Love se precipitou, recrutando Brody para tocar guitarra (sem dar créditos) em seu novo álbum. “Eu fiquei um pouco insultada quando eu percebi que meu nome não estava lá, mas agora eu estou contente porque as resenhas têm sido tão confusas,” ela diz, com um sotaque americano do qual quase todos os australianos teriam expurgado.
“Acho que ela está tendo um tempo difícil explorando a energia que ela costumava ter. Mas eu não a vejo muito. Eu tenho cerca de dez mensagens de cinco minutos gravadas por ela, mas eu realmente não a conheço. Ela não se abre. Ela é como um presente com um cinto de castidade no lugar de uma fita.”
Ela ainda fala com a forma aberta e despreocupada de alguém que é tão novo nesse meio, que ela continua a falar o que pensa. “Há um paparazzi agora fora do hotel, tirando fotos minhas. Isso é uma grande novidade. Se isso continuar assim, eu passarei por momentos dificílimos, tendo que constantemente me podar.” Talvez, mas muito de sua poda atual, você pode suspeitar, é feito por Homme, cujo nome provoca um pouco de suspiro de menininha.
"Me desculpe... Você sabe aquele sentimento doente que mexe com suas vísceras, aquele sentimento apaixonado? Eu tenho todos eles a todo momento. Ele é o homem mais lindo que eu já vi na minha vida. Ele tem 1,95m de altura e parece um Elvis ruivo."
Eles certamente formam um casal marcante; em uma sala de revistas de fofocas sobre celebridades como Sadie Frost no NME Awards, Dalle e Homme decoraram o irascível glamour Kurt-e-Courtney. Sua felicidade tem um custo, aparentemente. Embora ela insista que não abandonou Armstrong por Homme, o episódio separou seus conhecidos em campos rivais.
Ela contou à revista The Face que ela estava planejando deixar Armstrong há três anos: “Ele é 14 anos mais velho que eu, mas emocionalmente é uma criança... E eu não via diferença alguma.” Os camaradas de Tim, incluindo Kelly Osbourne e a banda Good Charlotte, marginalizaram o Distillers. Granelli disse que a banda ficou praticamente sem amigos, enquanto Dalle alegava que era desprezada. Isso parece uma briga besta de playground que explodiu em proporções ridículas, mas eles estão curtindo o suficiente para ter apelidado a última turnê nos Estados Unidos como “A Turnê da Mulher Mais Odiada da Terra”.
“A mulher é sempre vista como a vilã e acaba demonizada por tomar uma decisão sem instruções de um homem,” ela diz sem paixão. “Há uma comunidade muito perto [em L.A.], e quando ela funciona, é um bom lugar para se estar. Mas as coisas não são tão preto e branco.”